sexta-feira, 22 de maio de 2015

MITOS
João Eichbaum

A humanidade vive movida pela imaginação. E a primeira imaginação que mexe com a maioria dos primatas é a da “outra vida”. Graças a ela, sobrevivem as religiões. Depois, seguem-se outros tipos de imaginação que, de um modo ou de outro, estimulam a luta pela vida ou levam o homem a esperar pelo sonho no berço do conformismo.

No dia a dia, o que leva as pessoas a tocarem a vida é a imaginação de que tudo pode melhorar: a política, o trabalho, o patrimônio, a vida afetiva, a saúde. Tanto o pobre como o rico imagina que a vida pode mudar para melhor. Aquele vive sonhando com um salário maior, com um emprego, melhor, com a casa própria, o pagamento das dívidas, o carro, etc. Esse vive acalentando o sonho de uma fortuna maior.

A certeza de que a humanidade é movida a imaginação gera o produto da imprensa. Então a imprensa cria heróis, criaturas belas e cheias de sucesso, esportistas imbatíveis, campeões, artistas extraordinários, poetas envolventes, grandes escritores, empresários de altíssimo coturno  e – por que não?- grandes jornalistas.

Responsável por grande parte do faturamento nos órgãos de imprensa, a marca Gerdau, por exemplo, sempre foi tratada na mídia, como uma empresa impoluta, modelo de dinamismo e de conquista no mercado, paradigma de sucesso. Tendo na mão o instrumento para ativar a imaginação das pessoas, a mídia nunca deixou que o Grupo Gerdau descesse do alto pedestal que lhe foi reservado.

Quem o derrubou agora foi a polícia. E a imprensa é obrigada a noticiar (mas a ZH não noticia) o envolvimento do Grupo Gerdau com a corrupção, é obrigada a reverter na imaginação das pessoas o perfil de grandeza que plantou. Diz-se que a conta a pagar ficou em cinco bilhões de reais. Como e se o Grupo, cujo presidente, Jorge Gerdau, foi conselheiro da Petrobrás e da Dilma,  vai se restabelecer e readquirir a imagem de empresa honesta, não se sabe. Mas, isso não obstante, a imprensa vai continuar a incendiar a imaginação das pessoas com outros heróis, outros vencedores. Principalmente a RBS, que também está envolvida. É disso que depende a sobrevivência da imprensa: da criação de mitos. São os mitos que alimentam a imaginação.





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