MITOS
João Eichbaum
A humanidade vive movida pela imaginação.
E a primeira imaginação que mexe com a maioria dos primatas é a da “outra
vida”. Graças a ela, sobrevivem as religiões. Depois, seguem-se outros tipos de
imaginação que, de um modo ou de outro, estimulam a luta pela vida ou levam o
homem a esperar pelo sonho no berço do conformismo.
No dia a dia, o que leva as pessoas a
tocarem a vida é a imaginação de que tudo pode melhorar: a política, o
trabalho, o patrimônio, a vida afetiva, a saúde. Tanto o pobre como o rico
imagina que a vida pode mudar para melhor. Aquele vive sonhando com um salário
maior, com um emprego, melhor, com a casa própria, o pagamento das dívidas, o carro, etc. Esse vive
acalentando o sonho de uma fortuna maior.
A certeza de que a humanidade é movida a
imaginação gera o produto da imprensa. Então a imprensa cria heróis, criaturas
belas e cheias de sucesso, esportistas imbatíveis, campeões, artistas
extraordinários, poetas envolventes, grandes escritores, empresários de altíssimo
coturno e – por que não?- grandes
jornalistas.
Responsável por grande parte do
faturamento nos órgãos de imprensa, a marca Gerdau, por exemplo, sempre foi
tratada na mídia, como uma empresa impoluta, modelo de dinamismo e de conquista
no mercado, paradigma de sucesso. Tendo na mão o instrumento para ativar a
imaginação das pessoas, a mídia nunca deixou que o Grupo Gerdau descesse do
alto pedestal que lhe foi reservado.
Quem o derrubou agora foi a polícia. E a
imprensa é obrigada a noticiar (mas a ZH não noticia) o envolvimento do Grupo Gerdau com a corrupção,
é obrigada a reverter na imaginação das pessoas o perfil de grandeza que
plantou. Diz-se que a conta a pagar ficou em cinco bilhões de reais. Como e se
o Grupo, cujo presidente, Jorge Gerdau, foi conselheiro da Petrobrás e da
Dilma, vai se restabelecer e readquirir
a imagem de empresa honesta, não se sabe. Mas, isso não obstante, a imprensa
vai continuar a incendiar a imaginação das pessoas com outros heróis, outros
vencedores. Principalmente a RBS, que também está envolvida. É disso que depende a sobrevivência da imprensa: da criação de
mitos. São os mitos que alimentam a imaginação.
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