terça-feira, 24 de maio de 2016

A VACINA E A POESIA

João Eichbaum

O nível de cultura de um povo se mede em sua escala de valores. No Brasil o que pontifica na escala de valores do povo é o futebol, o carnaval e a superstição, representada por inúmeras crenças. Se assim não fosse, jogadores de futebol não estariam entre os mais ricos do país, o Estado não financiaria carnaval, nem pouparia dos impostos as religiões.

É guiado por tal inversão de valores que o povo brasileiro elege seus governantes. Se o que conta para ele são essas ilusões, evidentemente a política fica num espaço sem importância. Então são eleitos para cargos políticos ex-jogadores de futebol, gentinha do oba-oba, pastores religiosos, pessoas semi-alfabetizadas, energúmenos, arrogantes e pusilânimes, noves fora os corruptos.

Michel Temer, por exemplo, pertence à classe dos pusilânimes. Com medo de perder a boquinha, ele está se revelando um produto desse povo, mostrando que não cultua valores absolutos, como a vida. Ele não se dá conta de que, sem saúde, não há vida e, sem vida, não há futebol, carnaval, nem religião.

Enquanto pesquisadores abandonam o país por falta de meios, enquanto faltam vacinas, enquanto milhares de doentes são amontoados em corredores de hospitais, ele está preocupado com o Ministério da Cultura.

Sua inversão de valores não lhe permite ver que, sem educação, não há cultura, porque só se pode chamar de cultura o produto da educação de um povo. O máximo que um povo sem educação pode produzir é a ignorância triunfante, que recebe o nome de cultura.

As universidades federais estão sucateadas, os professores são mal pagos, há escolas caindo aos pedaços. Mas a verba da “cultura” deve servir aos poetas, escritores e artistas que, produzindo sua arte para um povo que não sabe ler, não conseguem enriquecer como os jogadores de futebol.





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