OS CHAMADOS HUMANOS
João Eichbaum
A humanidadde, alguma vez na vida, esteve bem? A humanidade, isto é, o mundo inteiro, alguma vez na vida, foi plenamente feliz e satisfeito com o que é e o que tem?
Por que existe entre os homens essa dolorosa divisão de pobres e ricos, de felizes e infelizes, de cabeças boas e cabeças ocas?
Algum “Deus” ou deus encheria o mundo com criaturas assim divididas? Por que alguns estão muito bem e a maioria muito mal?
Terá a humanidade uma administração “divina”?
Olhe, meu amigo, se você pensa que o mundo é administrado por uma divindade, você vai ter que me explicar as razões dessas diferenças. Será um descuido dessa “divindade”? Bem, se for descuido, essa administração não pode ser divina. Deus nenhum se distrai, nem faz coisas sem pensar. A distração não é um componente da perfeição e todo o “Deus” deveria ser perfeito, assim como lhe atribuem os qualificativos de onisciente e onipresente.
Mas, se não é por distração é por intenção que existem tais diferenças. E nesse caso também não se pode admitir “divindade” alguma como regente desse mundo. Deus nenhum iria criar, voluntariamente e gratuitamente, tais distinções, fazendo uns homens pobres e outros ricos, uns felizes e outros infelizes, só para se divertir, para se esbaldar à vontade em cima da miséria. Deus nenhum teria critérios plausíveis para dar tudo para alguns poucos, e nada para a grande maioria.
Essa é a única maneira de afastar toda e qualquer divindade da administração desse mundo de, cheio de guerras e ódios, cheio de líderes aproveitadores, cheio de tiranos físicos e morais.
Então, meu amigo, convença-se: nenhum de nós é escrínio de dignidade, coisa nenhuma. Todos nós, os que constituímos a chamada humanidade, tivemos a sorte (alguns, outros o azar) de ter evoluído um pouco mais do que os chimpanzés e os bonobos, dos quais herdamos, contudo, todos os defeitos e qualidades, que se resumem em dois pontos: ambição pelo poder e sexualidade. A palavra “´poder” aqui deve ser entendida no seu mais amplo sentido. Nem todos gostaríamos de ser políticos, mas todos gostaríamos de ter o “poder” econômico, ou seja, a disposição de todos os meios que realizassem nossos desejos de felicidade.
A diferença entre Bill Gates e um índio internado no fundo da Amazônia, que desconhece a chamada civilização, a diferença entre um Lula que ficou rico em cima do poder e um pobre operário que vai morrer com a miserável pensãozinha do INSS não pode ser atribuída a “Deus” nenhum. Só a nossa ascendência explica isso.
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