quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

AS VIRGENS


João Eichbaum

Não fiquem pensando que vou escrever aqui um tratado sobre o hímen ou dar lições de como as mocinhas devem preservar a virgindade. Não vou falar daquele momento em que, para a fêmea, a paixão se transforma em dor e, para o macho, o troféu sanguinolento representa a vitória e o faz bradar: “fui o primeiro, deu pra vocês”!
Não. “As virgens” de que me ocupo são aquelas de que falou o Janer Cristaldo na sua crônica publicada ontem neste blog.
E na verdade esta crônica devia ser intitulada “As Virgens do Janer”. Mas pensei que o título ia pegar mal e deixei por isso mesmo.
As “virgens” do Janer  são as que aparecem, ou melhor, apareciam, volta e meia, para criancinhas ou gente de cuca duvidosa, pedindo que rezassem o rosário, que lhe erguessem algum monumento, alguma igreja, ou outras pieguices  tipo “devoção ao sagrado coração”...
Lendo a crônica do Janer não pude fugir à idéa de que a Igreja Católica foi a inventora do “marketing”. Foi bolando idéias para arregimentar o povo ingênuo e infeliz que ela conseguiu estender o domínio do cristianismo para todos os recantos do mundo.
O “santo sudário”, as lasquinhas da “cruz” em que teria sido pregado Jesus Cristo, o sangue de “São Januário” foram ensaios desse processo de “marketing” que deu certo. Daí a inventar as “Virgens” que “apareciam” aqui e acolá foi um salto grande, que rendeu mais ainda do que as “relíquias” antes mencionadas.
Uma “Virgem” aparecendo é um espetáculo que atrai o povo. O povo gosta de novidades. De boas ou ruins, desde que sejam novidades. Por exemplo, a gente está numa rodovia de grande circulação de veículos. De repente, tudo pára, dá engarrafamento. Grande parte do engarrafamento é causada pela curiosidade, pela ânsia do povo pelas novidades. Mesmo que seja uma batidinha de merda, os motoristas curiosos diminuem a marcha, quase param, para ver o que está acontecendo. Se  há morto envolvido, então, nem se fala. Todo mundo quer olhar.
Assim é o povo, sedento por novidades, doente de curiosidade e, no fundo, louco pra ver os outros se ralarem.
Imaginem uma “Virgem” aparecendo, mais brilhante do que o sol, mas protegendo sua pele pálida com uma auréola celeste! Ora se o povo não vai pra lá, se plantar, esperando que a “aparição” se repita!
É assim que se constroem santuários, é assim que se recolhe dinheiro.
Nem a Coca-cola conseguiu, até hoje, um processo de “marketing” tão envolvente.
A Igreja planta a idéia, porque conhece o povo, sabe até que ponto pode ir a força da multidão, que gosta de orgasmos epilépticos. E assim vai criando uma “Virgem” aqui, outra acolá, ontem uma, amanhã outra...
Que ladrem os incréus, mas a caravana das “Virgens”, cada uma com seu perfil, ditado pelo “marketing, continuará  passando.

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