quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

ENIGMAS DA MENTE


Paulo Wainberg

Esta educativa coluna está sempre à frente do seu tempo, na incessante busca de soluções para os principais problemas da Humanidade.
Hoje, apresenta o resultado e a conclusão extraordinários da pesquisa que realizou, visando decifrar, de uma vez por todas, o fenômeno conhecido internacionalmente como O Raciocínio Tortuoso.
Tomemos a seguinte afirmativa para o exemplo: "Eu sempre falo a verdade e isto é uma mentira".
Ora, se é mentira que sempre falo a verdade, substituamos a proposição inicial para: "As vezes eu falo a verdade e isto é uma mentira".
Ora, se é mentira que eu as vezes falo a verdade, tentemos assim: "Eu nunca falo a verdade e isto é uma mentira".
Primeira Conclusão: De todas as proposições acima o único denominador comum é: "E isto é uma mentira".
Para que nossos críticos não nos acusem de parciais e tendenciosos, mudemos a proposição de caráter afirmativo para outra de caráter negativo: "Eu nunca minto e isto é uma mentira". Ora, se é mentira que eu nunca minto, logo: "As vezes eu minto e isto é uma mentira". Ora, sé mentira que às vezes eu minto, logo: "Eu sempre minto e isto é uma mentira".
De novo fica demonstrado que a única verdade possível é uma mentira e, consequente, tudo é uma mentira, afirmação que também é uma mentira.
Ficou claro, para o senhor e para a senhora, como funciona o Raciocínio Tortuoso?
Tragamos então, este finalmente solucionado enigma da mente, para o mundo real, onde as coisas realmente acontecem.
O Doutor Haroldo era médico e amigo de Osmar, isto, exatamente o Osmar, o nosso correspondente que não responde e não corresponde.
Osmar, acometido de fortes dores lombares decorrentes do excesso de cerveja, estava acamado e chamou o doutor Haroldo, que, pontualmente às nove da noite, chegou.
Osmar, na cama e rodeado de amigos, ingeria calmamente sua cerveja enquanto os amigos, menos politizados, tomavam doses generosas de uísque, todos confraternizando com o amigo doente.
O doutor Haroldo tinha uma característica interessante, só bebia e fumava quando estava junto com Osmar e, naquela noite, não foi diferente. Após examinar, diagnosticar e receitar, doutor Haroldo aceitou a primeira de três doses de uísque, suficientes para deixá-lo no ponto limite entre a lucidez e o coma. Fumou vários cigarros, conversou, riu e divertiu-se e, pelas onze horas anunciou que ia para casa, porque Clarinha esperava para jantar.
Logo após a saída, Osmar ligou para a casa do doutor Haroldo:
- Alô Clarinha, tudo bem? Aqui é o Osmar, o Haroldo está?
- Não. Ele me disse, quando saiu do consultório, que ia passar aí para ver você.
- Pois é, ele disse que ia chegar pelas nove e até agora nada.. Pede para ele me ligar, logo que chegar, ok?
Mal desligou o telefone, Clarinha ouviu os passos do doutor Haroldo, que apareceu diante dela desgrenhado, tonto, cheirando a uísque e cigarro.
- Onde vocês estava, Haroldo?
- Ué? Estava no Osmar.
- Haroldo, o Osmar acabou de ligar. Ele está esperando você desde as nove horas.
Osmar e os amigos esperavam, ansiosos, divertindo-se com a situação. Não demorou muito e o telefone toca:
- Osmar, pelo amor de Deus, diz para Clarinha que eu estava aí, ela vai falar contigo agora.
- Oi Osmar, é a Clarinha, afinal o Haroldo esteve ou não esteve aí?
- Não - respondeu Osmar com a maior seriedade.
O que houve a seguir você, meu caro amigo, você minha adorável senhora, podem perfeitamente imaginar, mas adianto que não foi nada bom.
Porém nossa tese ficou plenamente comprovada. A mentira de Osmar, foi verdade para Clarinha. A verdade de Haroldo foi mentira para Clarinha. O que prevalesceu? As duas mentiras.
E isto também é uma mentira.

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