Paulo Wainberg
Esta educativa coluna está sempre à frente do seu tempo, na
incessante busca de soluções para os principais problemas da Humanidade.
Hoje, apresenta o resultado e a conclusão extraordinários
da pesquisa que realizou, visando decifrar, de uma vez por todas, o fenômeno
conhecido internacionalmente como O Raciocínio Tortuoso.
Tomemos a seguinte afirmativa para o exemplo: "Eu sempre
falo a verdade e isto é uma mentira".
Ora, se é mentira que sempre falo a verdade, substituamos a
proposição inicial para: "As vezes eu falo a verdade e isto é uma
mentira".
Ora, se é mentira que eu as vezes falo a verdade, tentemos
assim: "Eu nunca falo a verdade e isto é uma mentira".
Primeira Conclusão: De todas as proposições acima o único
denominador comum é: "E isto é uma mentira".
Para que nossos críticos não nos acusem de parciais e
tendenciosos, mudemos a proposição de caráter afirmativo para outra de caráter
negativo: "Eu nunca minto e isto é uma mentira". Ora, se é mentira
que eu nunca minto, logo: "As vezes eu minto e isto é uma mentira".
Ora, sé mentira que às vezes eu minto, logo: "Eu sempre minto e isto é uma
mentira".
De novo fica demonstrado que a única verdade possível é uma
mentira e, consequente, tudo é uma mentira, afirmação que também é uma mentira.
Ficou claro, para o senhor e para a senhora, como funciona o
Raciocínio Tortuoso?
Tragamos então, este finalmente solucionado enigma da mente,
para o mundo real, onde as coisas realmente acontecem.
O Doutor Haroldo era médico e amigo de Osmar, isto, exatamente o
Osmar, o nosso correspondente que não responde e não corresponde.
Osmar, acometido de fortes dores lombares decorrentes do excesso
de cerveja, estava acamado e chamou o doutor Haroldo, que, pontualmente às nove
da noite, chegou.
Osmar, na cama e rodeado de amigos, ingeria calmamente sua
cerveja enquanto os amigos, menos politizados, tomavam doses generosas de
uísque, todos confraternizando com o amigo doente.
O doutor Haroldo tinha uma característica interessante, só bebia
e fumava quando estava junto com Osmar e, naquela noite, não foi diferente.
Após examinar, diagnosticar e receitar, doutor Haroldo aceitou a primeira de
três doses de uísque, suficientes para deixá-lo no ponto limite entre a lucidez
e o coma. Fumou vários cigarros, conversou, riu e divertiu-se e, pelas onze
horas anunciou que ia para casa, porque Clarinha esperava para jantar.
Logo após a saída, Osmar ligou para a casa do doutor Haroldo:
- Alô Clarinha, tudo bem? Aqui é o Osmar, o Haroldo está?
- Não. Ele me disse, quando saiu do consultório, que ia passar
aí para ver você.
- Pois é, ele disse que ia chegar pelas nove e até agora nada..
Pede para ele me ligar, logo que chegar, ok?
Mal desligou o telefone, Clarinha ouviu os passos do doutor
Haroldo, que apareceu diante dela desgrenhado, tonto, cheirando a uísque e
cigarro.
- Onde vocês estava, Haroldo?
- Ué? Estava no Osmar.
- Haroldo, o Osmar acabou de ligar. Ele está esperando você
desde as nove horas.
Osmar e os amigos esperavam, ansiosos, divertindo-se com a
situação. Não demorou muito e o telefone toca:
- Osmar, pelo amor de Deus, diz para Clarinha que eu estava
aí, ela vai falar contigo agora.
- Oi Osmar, é a Clarinha, afinal o Haroldo esteve ou não esteve
aí?
- Não - respondeu Osmar com a maior seriedade.
O que houve a seguir você, meu caro amigo, você minha adorável
senhora, podem perfeitamente imaginar, mas adianto que não foi nada bom.
Porém nossa tese ficou plenamente comprovada. A mentira de
Osmar, foi verdade para Clarinha. A verdade de Haroldo foi mentira para
Clarinha. O que prevalesceu? As duas mentiras.
E isto também é uma mentira.
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