LAMA E BOSTA DE CAVALO
João Eichbaum
Todos os anos, na semana
que precede o dia 20 de setembro, o município de Porto Alegre cede um considerável
espaço no parque chamado Maurício Sirotsky Sobrinho, para que os gaúchos
comemorem como feito heróico, uma “ímpia e injusta guerra”.
Lá se reúnem os
fanáticos, vestem bombacha, adornam o pescoço com um lenço vermelho, botam na
cabeça um chapéu de abas largas, calçam botas de cano comprido, com esporas de
metais nos calcanhares, exibem uma faca na cintura, procuram imitar o sotaque
dos pampeanos, se entopem de chimarrão e, muitos, de cachaça, servida em guampa
de bovino.
Alguns desfilam de
cavalo para mostrar que são “gaúchos” e andam por lá esporeando os animais,
falando grosso. Outros tocam gaita e violão, abrem a goela para arrotar as grandezas
do pampa. As “prendas” desfilam com seus vestidos compridos de chita, que
escondem as partes melhores das mulheres: ancas e peitos.
Invariavelmente, nessa
época, São Miguel manda água para valer: é a falada enchente de São Miguel.
Porto Alegre fica alagada, não há canto em que não haja água, chove a cântaros
sem parar.
Nessas circunstâncias, é
claro que o barro se avoluma e, pisoteado pelas botas dos gaúchos, forma uma
gosma desagradável, sobre a qual os cavalos e éguas fazem as suas necessidades.
Então o quadro fica
assim: lama e bosta de cavalo por tudo quanto é canto.
Nesse palco os gaúchos
lembram e comemoram a “Guerra dos Farrapos”, um levante contra o Governo
Federal que ficou na história. Sentindo-se escorchados por impostos, os
riograndenses de então tinham resolvido instalar a própria república, se
separando do Brasil. Eles trabalhavam, os impostos iam para o Governo Central,
mas o Rio Grande do Sul nada recebia em troca. Essa foi a causa da estrepulia.
Os gaúchos não ganharam
a guerra: se entregaram.
E de nada adiantou a
dita guerra. A espoliação continua a mesma até hoje. Os impostos, recolhidos dos
riograndenses que trabalham, são aproveitados pelo Sarney, pelo Collor, pelo
Renan Calheiros e muitos outros que enriqueceram sem saber o que é batente. E o
Tarso Genro, que é governador, bate palmas.
Mesmo assim, os gaúchos
comemoram essa “ímpia e injusta guerra”, cantam, bebem, dançam, e se refestelam
numa apoteose de lama e bosta de cavalo. E ainda querem que essa façanha sirva
“de modelo a toda a terra”.
Pode?
PS – Para quem não
conhece, segue a letra do “hino riograndense”:
Como aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o 20 de Setembro
O precursor da liberdade
Do farol da divindade
Foi o 20 de Setembro
O precursor da liberdade
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra
Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra
Um comentário:
Nunca fui a esse local, o parque, mas confesso que gosto de ouvir o hino rio-grandense, principalmente quando é cantado pelo Lucas! Fico numa vibração!
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