A POLÍCIA
FEDERAL E SEUS FEITOS ESPETACULARES
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com
Há uma coisa que a Polícia Federal sabe
fazer melhor do que ninguém: os espetáculos. “Show”, luzes, câmeras e ação é
com ela mesma. Em qualquer sentido. Até quando ela própria é o personagem da
trama, daquela trama que complica a vida de quem precisa trabalhar para pagar
os impostos que, ao fim e ao cabo, vão parar no bolso dos servidores. Falo da
trama das greves, das operações "padrão” e de outros
constrangimentos nem tão evidentes.
Não é pior o desempenho da instituição
quando ela assume as funções de regência na peça teatral, e os personagens são
todos bandidos. São os espetáculos de que ela mais gosta, os que não têm
mocinhos, só bandidos.
Para esse tipo de "show", ela
escolhe bandidos especiais. Nada de chinelão. Os papéis principais são
confiados a bandidos de terno e gravata, os que praticam os mal chamados
“crimes de colarinho branco”.
Bah, aí então é a maior humilhação. Os
caras se escondendo, baixando a cabeça, mas de braços dados com dois machões de
colete negro e letras amarelas, e um baita pau de fogo atravessado na cintura,
tão gentis quanto um cavalo guarnecido com petrechos de guerra.
Claro que o povo delira, vendo figurões
da política sendo empurrados como sacos de batata para dentro dos camburões.
Todo mundo gosta e a polícia, sabendo disso, capricha, mostrando imagens de uns
caras que parecem só acreditar no Coração de Jesus quando estão mal na parada.
Não é qualquer canalzinho de televisão
que serve, não. Tem que ser televisão que dá “ibope”, pontos e mais pontos de
audiência, que casualmente vá passar pelo local e exatamente na hora da prisão.
Desde que o personagem principal não seja nenhuma mulher do Lula, claro.
E aí a polícia federal já vai dando
nomes pomposos para a operação: operação “merde au-dessus de ventilateur”,
operação “ cul de ta mère”, etc...
Macaquice, isso sim. Coisa inventada
pela polícia americana.
Só que nessa última operação, levada a
efeito no Rio Grande do Sul, em razão de mal feitos na área ambiental, com a
prisão de secretários de Estado, secretários municipais, empresários e outras
figurinhas de menor calibre, a polícia deu o maior fora: passou um atestado de
ignorância em latim.
Deram à operação o nome de “Concutare”,
e à primeira pergunta de um repórter, o chefe encheu a boca para ensinar, com
ar de doutor e mestre: é uma palavra que vem do latim e tem a ver com
corrupção.
Vexame, gente. O sábio sabe que nada
sabe, mas quem engatinha nas letras tem o pouco que sabe na conta de uma imensa
sabedoria.
Não existe no latim o verbo “concutare”,
que seria, se existisse, da primeira conjugação. O que existe é o verbo concutio,
concussi, concussum, concuntere, da terceira conjugação, com acento tônico
na segunda sílaba. O verbo tem quase trinta significados. Um deles é
extorquir. Tem a ver com “concussão” e não com “corrupção”, que são dois crimes
diferentes.
Aconselho os sábios da Polícia Federal,
depois dessa, a ficarem na sua, lidando com algemas, de braço dado com machos, ou envolvendo neles seus portentosos bíceps. Deixem o resto para quem entende.
O latim é complicado demais para quem só sabe operar no
"Google".
Ah, e antes que esqueça: só o sábio goza
do privilégio da simplicidade.
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