terça-feira, 7 de maio de 2013


A POLÍCIA FEDERAL E SEUS FEITOS ESPETACULARES
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com


Há uma coisa que a Polícia Federal sabe fazer melhor do que ninguém: os espetáculos. “Show”, luzes, câmeras e ação é com ela mesma. Em qualquer sentido. Até quando ela própria é o personagem da trama, daquela trama que complica a vida de quem precisa trabalhar para pagar os impostos que, ao fim e ao cabo, vão parar no bolso dos servidores. Falo da trama das greves, das operações  "padrão” e de outros  constrangimentos nem tão evidentes.
Não é pior o desempenho da instituição quando ela assume as funções de regência na peça teatral, e os personagens são todos bandidos. São os espetáculos de que ela mais gosta, os que não têm mocinhos, só bandidos.
Para esse tipo de "show", ela escolhe bandidos especiais. Nada de chinelão. Os papéis principais são confiados a bandidos de terno e gravata, os que praticam os mal chamados “crimes de colarinho branco”.
Bah, aí então é a maior humilhação. Os caras se escondendo, baixando a cabeça, mas de braços dados com dois machões de colete negro e letras amarelas, e um baita pau de fogo atravessado na cintura, tão gentis quanto um cavalo guarnecido com petrechos de guerra.
Claro que o povo delira, vendo figurões da política sendo empurrados como sacos de batata para dentro dos camburões. Todo mundo gosta e a polícia, sabendo disso, capricha, mostrando imagens de uns caras que parecem só acreditar no Coração de Jesus quando estão mal na parada.
Não é qualquer canalzinho de televisão que serve, não. Tem que ser televisão que dá “ibope”, pontos e mais pontos de audiência, que casualmente vá passar pelo local e exatamente na hora da prisão. Desde que o personagem principal não seja nenhuma mulher do Lula, claro.
E aí a polícia federal já vai dando nomes pomposos para a operação: operação “merde au-dessus de ventilateur”, operação “ cul de ta mère”, etc...
Macaquice, isso sim. Coisa inventada pela polícia americana.
Só que nessa última operação, levada a efeito no Rio Grande do Sul, em razão de mal feitos na área ambiental, com a prisão de secretários de Estado, secretários municipais, empresários e outras figurinhas de menor calibre, a polícia deu o maior fora: passou um atestado de ignorância em latim.
Deram à operação o nome de “Concutare”, e à primeira pergunta de um repórter, o chefe encheu a boca para ensinar, com ar de doutor e mestre: é  uma palavra que vem do latim e tem a ver com corrupção.
Vexame, gente. O sábio sabe que nada sabe, mas quem engatinha nas letras tem o pouco que sabe na conta de uma imensa sabedoria.
Não existe no latim o verbo “concutare”, que seria, se existisse, da primeira conjugação. O que existe é o verbo concutio, concussi, concussum, concuntere, da terceira conjugação, com acento tônico na segunda sílaba. O verbo tem quase trinta significados. Um deles é extorquir. Tem a ver com “concussão” e não com “corrupção”, que são dois crimes diferentes.
Aconselho os sábios da Polícia Federal, depois dessa, a ficarem na sua, lidando com algemas, de braço dado com machos, ou envolvendo neles seus portentosos bíceps. Deixem o resto para quem entende. O latim é complicado demais para quem só sabe operar no  "Google".
Ah, e antes que esqueça: só o sábio goza do privilégio da simplicidade.

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