terça-feira, 14 de maio de 2013


OS NOVOS DEUSES

João Eichbaum

Não sei se é a RBS ou quem - e nem interessa saber - que organiza uma picaretagem chamada “Fronteiras do Pensamento” todos os anos. São conferências, palestras proferidas por “intelectuais”, principalmente “filósofos”, muitos dos quais vêm do exterior.
São convidados que, com tudo pago, aqui vêm vender seu peixe para quem ainda acredita em bruxas. E como há gente que ainda acredita! O Salão de Atos da Universidade Federal fica cheio.
Não sei como é que pode. Como é que alguém pode acomodar a bunda numa cadeira por um tempão só para ouvir blablabás que não servem para bosta nenhuma, salvo para promover os conferencistas, muitos dos quais ninguém conhece.
Por exemplo, na semana passada, veio uma ex-freira da Inglaterra para falar sobre religião. Feia, de assustar criança. E o Salão de Atos estava lotado. Pô, ouvir freira falar de religião, me poupem. Prefiro ficar filosofando na frente de um montão de bolachas de chope, com um copo sempre na frente, aquela cor de loira bronzeada, e  um colarinho legal.
Filosofia, gente, só serve para motivar mais uma rodada de chope. Ouvir filósofos, hoje? Olha, o mundo mudou, não tem mais lugar para filósofo, porque os filósofos até agora não resolveram os problemas da humanidade, como ninguém resolverá.
E isso, por uma razão muito simples. O animal que os filósofos tentaram mudar num “ser digno, dotado de alma” ficou pior, exatamente, por causa deles. Os filósofos quiseram humanizar o animal homem e se deram mal: só o animal homem tem um defeito genético que nenhum outro animal tem, a ganância. É bem mais fácil humanizar um cão do que um homem.
 Além disso, os filósofos inventaram os “direitos humanos”, que não permite bater nos bandidos, que concede aos ditos bandidos o privilégio de ser criado a pão de ló na cadeia, de receberem visitas íntimas e de só morrerem de morte natural.
Com esses direitos, a bandidagem cresceu, a violência assumiu o controle de tudo. Hoje, não há o que se possa acabar com a violência. Não há mais remédio: o crime domina, o Estado se apequenou, tornou-se refém da animalidade do homem.
Se você for assaltado e tiver um revólver encostado no peito ou na cabeça, sabe que seu destino está nas mãos do criminoso. Ele é que vai decidir se você tem o direito de continuar vivendo, ou não. O criminoso se tornou o senhor de sua vida. Esqueça desse “Deus” em que você acredita, graças aos filósofos. O mundo está entregue ao crime, à violência, àquilo que realmente mostra que tipo de animal é o homem.
Enfim, nos dias atuais nosso destino está nas mãos desses novos deuses. Tanto aqui, como em qualquer parte do mundo: na Síria, em Israel, na Palestina, em pleno centro de Nova Iorque, onde quer que seja.
 Quem sabe a RBS muda sua estratégia e convida a bandidagem para ouvir os filósofos, no Salão de Atos.
Duma coisa tenho certeza: seria mais fácil converter os bandidos, do que convencer a RBS a abrir mão de seus lucros. Por isso é que minha idéia nunca será considerada.

Um comentário:

Gigi disse...

Pois é, talvez eu goste de ser iludido... Deu-me uma vontade de ouvir filósofos falando sobre "fronteiras do pensamento". Bom, essa freirinha, nem tanto, mas guardo impressão antiga de que os filósofos é que chegam aos píncaros da sabedoria. Um Sócrates, um Aristóteles, um Confúcio, Eichbaum, não gostarias de ter convivido com eles? Li, há dias, citação de Platão, apud Janer, em que ele se dizia feliz, entre outras razões infames, esta, bem razoável, de estar vivendo nos tempos de Sócrates. Assim, mesmo gostando da crônica, não quer dizer que concorde por inteiro. Concordo, por exemplo, na indisposição com a defesa intransigente dos direitos humanos dos bandidos.