A PROPÓSITO DE SEU ANIVERSÁRIO (II)
João Eichbaum
Já pensou ir de Santa Maria a Porto Alegre
em pouco mais de uma hora, ou a São Paulo, em menos tempo do que se leva hoje
daqui à capital gaúcha, sem necessidade de se deslocar para aeroporto, sujeito
a encontrá-lo fechado para pousos e decolagens?
Isso aconteceria se, em vez de ser
destruído, o maior pólo ferroviário, sediado em Santa Maria, tivesse sido
desenvolvido, aparelhado com a moderna tecnologia. Com um trem tipo ICE da Alemanha isso
deixaria de ser sonho, porque seria a realidade do dia a dia.
O que seria de Santa Maria se ela tivesse
dirigido todos os seus objetivos, reunido todas as suas lideranças na
modernização da ferrovia?
Certamente não teríamos um escola técnica
transformada em supermercado, uma escola profissional de serviços ferroviários
entregue ao mato e à ferrugem, um hotel de luxo feito mocambo no centro da cidade,
prédios arruinados pelas intempéries na Vila Belga, uma estação ferroviária que
mais parece morada de fantasmas, e uma Cooperativa, que já foi a maior do
Estado, reduzida a simples página virada de um livro de história.
Mas, deixemos de lamentar e ponhamos os
pés no chão: Santa Maria trocou a ferrovia pela Universidade.
Uma Universidade poderá dar retorno
financeiro. Se for privada, claro, dessas que se preocupam, em primeiro lugar,
com a tesouraria. Dessas que fornecem, a bom preço, diplomas de Direito,
Administração, Hotelaria, Letras, Pedagogia, Filosofia, etc. Ou qualquer coisa
do gênero, que não exija tecnologia, equipamentos.
Já a Universidade pública, por ser gratuita,
não tem qualquer lucro. E sua função é a seguinte: diplomar. Depois, o diplomado
que se vire, que vá procurar emprego, que vá disputar a cotoveladas seu espaço
no mercado de trabalho.
E a ferrovia? Em primeiro lugar, a
ferrovia tem sua receita com a venda de passagens. Mas a receita é insuficiente
para a manutenção, para a mão de obra. Então,
a ferrovia é deficitária. Em qualquer parte do mundo é assim.
Mas ela gera muito mais empregos do que a
Universidade. Ela exige, além de manutenção, constante desenvolvimento
tecnológico e, dessa forma, abre espaço e cria oportunidades para os
investimentos privados, que por sua vez, geram empregos. Ela acelera a
circulação de riqueza, estimula o turismo, a produção, ao mesmo tempo em que
tira muitos veículos das rodovias. Com isso, diminuem os acidentes e os custos
de manutenção das estradas. Essas, por seu turno, podem ser entregues a
concessionárias. Sem falar na diminuição do consumo interno de combustível, que
pode proporcionar sobras para exportação. Bem administrada, a ferrovia também
se afirma como forte concorrente do transporte aéreo, porque facilita o
deslocamento dos passageiros nas áreas urbanas.
Resumindo: empregos diretos e indiretos,
muitos dos quais exigem qualificação técnica, geram consumo, e consumo gera
impostos. De modo que o “deficit” particular da ferrovia é transformado em
“superavit” pela arrecadação fiscal em outras áreas. Quer dizer, o “deficit”
desaparece e permite reinvestimentos tais que levem a trens como os ICES
alemães, por exemplo.
Mas, o sonho de Santa Maria era outro, o de
ser sede de uma Universidade Federal.
Realizou o sonho, sem se dar conta de que estava apenas escrevendo uma
história.
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