quarta-feira, 22 de maio de 2013


A PROPÓSITO DE SEU ANIVERSÁRIO (II)
João Eichbaum


Já pensou ir de Santa Maria a Porto Alegre em pouco mais de uma hora, ou a São Paulo, em menos tempo do que se leva hoje daqui à capital gaúcha, sem necessidade de se deslocar para aeroporto, sujeito a encontrá-lo fechado para pousos e decolagens?
Isso aconteceria se, em vez de ser destruído, o maior pólo ferroviário, sediado em Santa Maria, tivesse sido desenvolvido, aparelhado com a moderna tecnologia.  Com um trem tipo ICE da Alemanha isso deixaria de ser sonho, porque seria a realidade do dia a dia.
O que seria de Santa Maria se ela tivesse dirigido todos os seus objetivos, reunido todas as suas lideranças na modernização da ferrovia?
Certamente não teríamos um escola técnica transformada em supermercado, uma escola profissional de serviços ferroviários entregue ao mato e à ferrugem, um hotel de luxo feito mocambo no centro da cidade, prédios arruinados pelas intempéries na Vila Belga, uma estação ferroviária que mais parece morada de fantasmas, e uma Cooperativa, que já foi a maior do Estado, reduzida a simples página virada de um livro de história.
Mas, deixemos de lamentar e ponhamos os pés no chão: Santa Maria trocou a ferrovia pela Universidade.
Uma Universidade poderá dar retorno financeiro. Se for privada, claro, dessas que se preocupam, em primeiro lugar, com a tesouraria. Dessas que fornecem, a bom preço, diplomas de Direito, Administração, Hotelaria, Letras, Pedagogia, Filosofia, etc. Ou qualquer coisa do gênero, que não exija tecnologia, equipamentos.
Já a Universidade pública, por ser gratuita, não tem qualquer lucro. E sua função é a seguinte: diplomar. Depois, o diplomado que se vire, que vá procurar emprego, que vá disputar a cotoveladas seu espaço no mercado de trabalho.
E a ferrovia? Em primeiro lugar, a ferrovia tem sua receita com a venda de passagens. Mas a receita é insuficiente para a manutenção, para a mão de obra. Então, a ferrovia é deficitária. Em qualquer parte do mundo é assim.
Mas ela gera muito mais empregos do que a Universidade. Ela exige, além de manutenção, constante desenvolvimento tecnológico e, dessa forma, abre espaço e cria oportunidades para os investimentos privados, que por sua vez, geram empregos. Ela acelera a circulação de riqueza, estimula o turismo, a produção, ao mesmo tempo em que tira muitos veículos das rodovias. Com isso, diminuem os acidentes e os custos de manutenção das estradas. Essas, por seu turno, podem ser entregues a concessionárias. Sem falar na diminuição do consumo interno de combustível, que pode proporcionar sobras para exportação. Bem administrada, a ferrovia também se afirma como forte concorrente do transporte aéreo, porque facilita o deslocamento dos passageiros nas áreas urbanas.
Resumindo: empregos diretos e indiretos, muitos dos quais exigem qualificação técnica, geram consumo, e consumo gera impostos. De modo que o “deficit” particular da ferrovia é transformado em “superavit” pela arrecadação fiscal em outras áreas. Quer dizer, o “deficit” desaparece e permite reinvestimentos tais que levem a trens como os ICES alemães, por exemplo.
 Mas, o sonho de Santa Maria era outro, o de ser sede de uma Universidade Federal.  Realizou o sonho, sem se dar conta de que estava apenas escrevendo uma história.



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