DOMINADOS
João
Eichbaum
Políticos sem escrúpulos (perdão pela
redundância) aproveitaram a vulnerabilidade causada pela dor, para dominar os
pais, familiares mais chegados e amigos das vítimas do incêndio da Boate Kiss
de Santa Maria.
Quem não compreende essa dor? Quem
não se apieda de pais que perdem seus filhos na flor da idade? É uma dor
imensa, o sentimento é inominável. As pessoas se sentem perdidas, sem amparo,
sem vontade de viver, se deixam dominar pelo desespero.
Aproveitando esse quadro miserável,
políticos de Santa Maria, alijados dos postos do mando municipal, passaram a
usar a dor dos que perderam seus entes queridos, para fazê-los instrumentos de
ambições políticas: afastar o prefeito, que quebrou o domínio do PT naquela
cidade.
Desde o primeiro momento, quando o
governador Tarso Genro chegou na cidade ainda mergulhada em estupefação e
lágrimas, se começou a jogar a culpa da tragédia da Kiss sobre os ombros do
prefeito. Tarso Genro, que é do PT, e embora não tenha nascido em Santa Maria
lá se criou, se formou, se casou e teve seus filhos, nada falou sobre seus bombeiros, que são os
responsáveis pela segurança contra o fogo, mas já foi dizendo que a prefeitura
devia responder pela causa. Foi o estopim. Seus companheiros do PT apanharam a
dica e foram em frente. Até a polícia seguiu a receita e indiciou o prefeito
Cesar Schirmer por “homicídio culposo”, num inquérito feito de teias de aranha.
Claro que, ao examinar o inquérito, a
Procuradoria da Justiça não poderia chegar a outra conclusão e pediu seu
arquivamento.
Ontem os agentes do Ministério
Público de Santa Maria deram por encerrado um inquérito para apurar
“improbidade administrativa”, pedindo instauração da ação contra os bombeiros
que tiveram participação direta ou indireta no fornecimento de alvarás.
Então, numa prova de que estão
servindo de marionetes para os políticos, os familiares das vítimas da boate
Kiss se mostraram decepcionados, vivendo mais uma “dor”, porque o prefeito
César Schirmer não consta entre os réus por “improbidade administrativa”.
Essa é a política perversa, que não
escolhe meios para se adonar do poder, onde está o dinheiro. Fora do poder, não
podendo se valer da corrupção, os políticos se valem da perversidade: usam os
ingênuos, os incautos e os enfraquecidos pela dor para atingirem seus fins.
Um comentário:
Não recordo exatamente o que disse o governador em seguida à tragédia. Mas, a análise faz muito sentido, se bem que, em Santa Maria, é muito difícil se avançar nessa discussão, em que se radicalizam as opiniões. Não me refiro aos familiares das vítimas, cuja dor é de transtornar qualquer um, mas, nos termos da crônica, aos que exploram politicamente a tragédia.
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