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A ROMARIA E O EVANGELHO
João Eichbaum
Jesus Cristo não
misturava política com religião. Quando lhe pediram, maliciosamente, uma
opinião sobre pagamento de tributos, ele saiu pela tangente, para não se
complicar com o fisco. Pediu que lhe apresentassem uma moeda. Com a moeda na mão, mostrou a lata do César e perguntou de quem era
aquela cara.
- De César -
responderam-lhe.
- Então - redarguiu o
Cristo - Ἀπόδοτε οὖν τὰ Καίσαρος Καίσαρι καὶ τὰ
τοῦ Θεοῦ τῷ Θεῷ.
Não,
calma lá, o Cristo não disse palavrão. Isso não é onomatopeia de briga de
bêbado. É grego castiço, o idioma do evangelho, que significa: “dai a César o que é do César e a Deus o que é
de Deus.”
Quer dizer: Jesus
Cristo não se metia com políticos e, pelo jeito, andava sempre duro, sem um
vintém no bolso. Se precisava de dinheiro, pescava e sacava a grana da boca do
peixe.
Claro, esse truque e
outros, como o de multiplicar pães
e peixes, o de ressuscitar três dias
depois de dar uma espiadinha no inferno, o de fazer vinho de água, etc, ele não
ensinou pra ninguém. Nem pra a mãe. Se o soubesse, teria ela própria
transformado a água no vinho aquele, que não era para fazer sagu mas para
alegrar os bebuns dum casório em Caná.
Mas, voltando ao que
dizia nessas mal traçadas linhas, Jesus Cristo não ligava para dinheiro e,
muito menos, para políticos. Bem ao contrário dos cristãos, que cobram o dízimo
e vivem puxando o saco dos políticos, quando não se transformam nos próprios.
Outra coisa, Jesus
Cristo não estava nem aí para sua segurança. Andava no meio do povo, defendia
prostitutas, xingava as autoridades, chamava os fariseus de “sepulcros
caiados”, mas nunca necessitou de segurança, de carro blindado, de faixa
especial, e jamais deu carteiraço de “filho de Deus”.
Tal qual está fazendo
o bondoso torcedor do San Lorenzo de Almagro, o Papa Francisco, que não quer
saber de mordomias. Não anda com batedores, nem com guardas suíços no cangote,
usa seu carro particular para visitas oficiais, como a que fez ao presidente da
Itália. Só não anda montado num burrinho, como fez Jesus Cristo, porque sabe
que iria atrapalhar ainda mais o sempre caótico trânsito de Roma, no qual ele
não conseguiria dirigir.
Já em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, é diferente.
Povo é uma coisa; autoridade, é outra. Políticos e hierarcas eclesiásticos têm
que andar em faixa própria, guarnecida pela polícia militar. O povo, que vai à
romaria da Medianeira para pagar promessas, anda de joelhos, de pés descalços,
vestido de anjo, os olhos grudados na santinha, se vira como pode. Ele aceita
tudo de Deus, da Virgem, do ex-candidato a papa, ou dos organizadores da
romaria, se puder conseguir um emprego, melhorar a saúde, casar, curar o câncer
ou pagar as contas no fim do mês.
Agora,
vamos convir: andar em faixa própria, blindado por brigadianos, separado dos
feios, sujos e malvados que se confundem com a massa informe do povão, não
combina com "amar ao próximo como a si mesmo e a Deus sobre todas as
coisas.” Vista a coisa por um prisma de valor, não é nada diferente dos
políticos que, entre outros males, pagam mal os brigadianos, mas se servem
deles para salvar a própria pele. E, assim protegidos, ainda ficam atirando
beijinhos e abanos para o povo, que paga a conta, mas não tem segurança.
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