quarta-feira, 27 de novembro de 2013

OS NOTÓRIOS SABERES E AS CONDUTAS NÃO ILIBADAS

João Eichbaum

Com aquele jeito de quem está sempre acabando de acordar, e com pilha fraca, a senhora Carmen Lúcia, ministra do STF, ao condenar José Genoíno, glosou seu voto com  a ressalva de que “julgamos fatos, infelizes, não histórias, que são dignas". Já seu colega Roberto Barroso, com o ar  assustado que Deus não lhe deu, mas é produzido pelos recortes e desenhos das sobrancelhas no salão “unissex”, se entregou ao orgasmo da piedade: “lamento condenar alguém que participou da reconstrução democrática do país. Lamento, sobretudo, condenar um homem que, segundo todas as fontes confiáveis, leva uma vida modesta e que jamais lucrou financeiramente com a politica".
Para quem não sabe, não se lembra, não ta nem aí, porque nunca se interessou saber, já que, com democracia ou sem democracia, a gente tem que dar duro, pagar impostos, INSS, plano de saúde, escola, para poder conseguir alguma coisa na vida,  a democracia  não foi conquistada pelo Genoíno, nem pelo Zé Dirceu, e por nenhum desses que hoje têm o poder na mão.
O  Genoíno, que tinha pegado em armas para implantar o regime comunista e o Zé Dirceu, cuja liberdade teve o preço de um crime, o seqüestro de um embaixador, estavam fora da jogada quando, de forma “lenta e gradual”, foi reinstalada a democracia no Brasil. Quer dizer, a democracia voltou não por causa deles, mas, apesar deles. Depois, sim, eles fizeram essa “democracia” em que vivemos, movida a “medidas provisórias”.
Então, não me venham com essa de que José Genoíno participou da “reconstrução democrática” ou “fez história digna”. Indiretamente sim, vai para a história, porque era do seu irmão, deputado José Nobre, o assessor aquele, apanhado com dólares na cueca, de cujo destinatário a Fazenda nem quis saber.
 A democracia voltou, quando o bom senso avisou aos militares que a ditadura estava se tornando “démodé”. Só isso. Nada, nem ninguém mais. Então, o seguinte: a democracia dispensou as armas do  Genoíno e voltou para o Brasil. Voltou porque assim o quiseram os militares, e não por causa do José Genoíno.
O que Genoino, Zé Dirceu, Fernando Henrique, Serra, Dilma e toda a turma da esquerda queria era o poder. Não o conseguiram pelas armas, mas  pelo voto, sendo que os do PT, graças ao Lula. Se enrabicharam no Lula e se aproveitaram da lábia dele, que soube engambelar o povo, para chegar ao poder. E aí, minha gente, se lambusaram com o poder, transformando o governo numa vitrine de egos deslumbrados. Alguns meteram a mão no dinheiro da nação para garantir a maioria, que lhes dá a chance de pintar e bordar,  criando bolsas e quotas, conferindo à cor da pele o “status” de privilégio e suprimindo o esforço pessoal do rol dos instrumentos de conquista. Sem contar o desestímulo à educação, com a remuneração indigna de seus agentes.
Então, você aí, que tem de acordar de madrugada para pegar o busão e partir pro batente, que tem de enfrentar fila do SUS, ou tem de ficar aguentando dor no corredor do hospital à espera duma vaga, e que terá o privilégio de perder o índice do salário mínimo quando se aposentar, você acha que o José Genoíno não merece os R$ 26.700,00 de aposentadoria, mais o plano de saúde, debitados na conta dos “sem-bolsa”, como recompensa pela rapinagem do dinheiro público?
Achando que não, você desrespeita “uma história digna” e a “reconstrução da democracia”,  coisas que valem mais do que a sobreviência digna do trabalhador.




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Um comentário:

Gigi disse...

Caro cronista, este é um texto formidável. E irrespondível.