OS NOTÓRIOS SABERES E AS CONDUTAS
NÃO ILIBADAS
João Eichbaum
Com aquele jeito de quem está sempre
acabando de acordar, e com pilha fraca, a senhora Carmen Lúcia, ministra do
STF, ao condenar José Genoíno, glosou seu voto com a ressalva de que “julgamos
fatos, infelizes, não histórias, que são dignas". Já seu colega Roberto Barroso, com o ar assustado que Deus não lhe deu, mas é produzido
pelos recortes e desenhos das sobrancelhas no salão “unissex”, se entregou ao
orgasmo da piedade: “lamento condenar alguém que
participou da reconstrução democrática do país. Lamento, sobretudo, condenar um
homem que, segundo todas as fontes confiáveis, leva uma vida modesta e que
jamais lucrou financeiramente com a politica".
Para quem não sabe, não se lembra, não
ta nem aí, porque nunca se interessou saber, já que, com democracia ou sem
democracia, a gente tem que dar duro, pagar impostos, INSS, plano de saúde,
escola, para poder conseguir alguma coisa na vida, a democracia não foi conquistada pelo Genoíno, nem pelo Zé
Dirceu, e por nenhum desses que hoje têm o poder na mão.
O
Genoíno, que tinha pegado em armas para implantar o regime comunista e o
Zé Dirceu, cuja liberdade teve o preço de um crime, o seqüestro de um
embaixador, estavam fora da jogada quando, de forma “lenta e gradual”, foi
reinstalada a democracia no Brasil. Quer dizer, a democracia voltou não por
causa deles, mas, apesar deles. Depois, sim, eles fizeram essa “democracia” em
que vivemos, movida a “medidas provisórias”.
Então, não me venham com essa de que
José Genoíno participou da “reconstrução democrática” ou “fez história digna”.
Indiretamente sim, vai para a história, porque era do seu irmão, deputado José
Nobre, o assessor aquele, apanhado com dólares na cueca, de cujo destinatário a
Fazenda nem quis saber.
A
democracia voltou, quando o bom senso avisou aos militares que a ditadura
estava se tornando “démodé”. Só isso. Nada, nem ninguém mais. Então, o seguinte: a democracia dispensou as armas
do Genoíno e voltou para o Brasil.
Voltou porque assim o quiseram os militares, e não por causa do José Genoíno.
O que Genoino, Zé Dirceu, Fernando
Henrique, Serra, Dilma e toda a turma da esquerda queria era o poder. Não o
conseguiram pelas armas, mas pelo voto,
sendo que os do PT, graças ao Lula. Se enrabicharam no Lula e se aproveitaram
da lábia dele, que soube engambelar o povo, para chegar ao poder. E aí, minha
gente, se lambusaram com o poder, transformando o governo numa vitrine de egos
deslumbrados. Alguns meteram a mão no dinheiro da nação para garantir a
maioria, que lhes dá a chance de pintar e bordar, criando bolsas e quotas, conferindo à cor da
pele o “status” de privilégio e suprimindo o esforço pessoal do rol dos
instrumentos de conquista. Sem contar o desestímulo à educação, com a
remuneração indigna de seus agentes.
Então, você aí, que tem de acordar de
madrugada para pegar o busão e partir pro batente, que tem de enfrentar fila do
SUS, ou tem de ficar aguentando dor no corredor do hospital à espera duma vaga,
e que terá o privilégio de perder o índice do salário mínimo quando se
aposentar, você acha que o José Genoíno não merece os R$ 26.700,00 de
aposentadoria, mais o plano de saúde, debitados na conta dos “sem-bolsa”, como
recompensa pela rapinagem do dinheiro público?
Achando que não, você desrespeita “uma
história digna” e a “reconstrução da democracia”, coisas que valem mais do que a sobreviência
digna do trabalhador.
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Um comentário:
Caro cronista, este é um texto formidável. E irrespondível.
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