DEPOIS DO NATAL
João
Eichbaum
Bom.
Agora que Jesus nasceu, depois daquela correria toda, o povão entupindo lojas,
ruas, supermercados e estacionamentos ou se mandando pra praia, levando a sogra
e a bicicleta das crianças, porque é Natal e Natal é coisa de família, depois
do porre de mistura de cerveja com espumante barato, depois dos abraços e
lágrimas e “Noite Feliz”, e o pessoal agora comendo resto de peru com farofa,
vamos para as páginas policiais.
Não as
páginas policiais de hoje, que é tudo a mesma coisa, droga, acidentes,
assaltos, dilúvio em Minas Gerais, morte de tudo quanto é jeito. Vamos para as
páginas policiais do passado, para conferir o que aconteceu logo depois do
nascimento do Jesus.
Está
escrito em Mateus, capítulo 2, versículo 1 a 18, que uns magos sem noção vieram
do Oriente até Jerusalém, e começaram a pedir informações sobre o “rei dos
judeus” que havia nascido, mas não sabiam onde. Contavam que tinham visto “sua
estrela no oriente e estavam ali a fim de adorá-lo”.
A
conclusão da gente é de que a tal de estrela tinha parado exatamente em cima de
Jerusalém, e também estava meio perdida, porque não era ali que estava o Jesus.
Como
ninguém sabia coisa nenhuma, e um perguntava pro outro, a conversa chegou até
Herodes. E o Herodes, que era a maior puxassaco do imperador Otaviano,
intitulado Augusto e filho de deus (divi filius) ficou com uma pulga na orelha:
opa, rei dos judeus? Não to a fim de perder essa mamata de tretarca da
Galiléia.
Na época,
Israel estava sob o domínio de Roma, e Herodes, que nem judeu era, tinha
arranjado aquela mamata de manda-chuva com o Augusto. Sim, sim, muito antes do
PT já existia isso de ajeitar um cargo pro companheiro. Com a história do “rei
dos judeus”, ele sentiu a truta, podia voar fora. Então chamou os sacerdotes e
outros entendidos em religião judaica, para saber do “rei dos judeus”.
-Vai
nascer em Belém – informou a turma. Está na bíblia.
E aí o
Herodes mandou chamar os magos e se fez de morto pra ganhar sapato novo: olha,
o reizinho aquele vai nascer em Belém. Quando voltarem, me façam uma visita e
me informem, que eu adoro crianças e quero ir lá também adorar o garotão.
Mas, os
magos, depois de entregarem os presentes de Natal, já que a Maria não tinha
feito chá de fralda, tiveram a revelação divina de que o Herodes estava com más
intenções e deviam tomar outro caminho, ao invés de voltarem por Jerusalém.
E aí
aconteceu o que todo mundo sabe: o Herodes mandou capar, ops, mandou decapitar
tudo quanto era guri, com menos de dois anos, por via das dúvidas, já que não
tinha sido informado sobre o paradeiro do “rei dos judeus”.
Gozado
né? Deus não mostrou pros magos onde estava o menino Jesus, mas lhes soprou nos
ouvidos que evitassem o Herodes na
volta!
É de
narrativas bíblicas como essa que o racionalismo ateu extrai argumentos para
afirmar que a divindade judaico-cristã, não passa de ente mitológico. Deus
nenhum cometeria tal ignomínia, sacrificando inocentes, para salvar o seu
“filho”. Das duas uma: ou não tinha poder para evitar o massacre, ou tinha esse
poder e não quis usá-lo. Na primeira hipótese, foi impotente. Na segunda, foi
sádico.
Não existe deus com tais defeitos. Nada que um
infartozinho no Herodes não resolvesse. E pior: a história até hoje faz muita
gente pensar no tetrarca da Galiléia, toda a vez que um bebê, lá no apartamento
de cima, acorda o edifício inteiro com berros e grunhidos. Aí vizinhança é
acometida pelo desejo de que chorão tivesse sido contemporâneo do menino Jesus.
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