FAÇANHAS QUE NÃO SERVEM DE MODELO
João Eichbaum
Daquela corrida de pega-pega entre óvulo e
espermatozóide, que resulta num embrião acomodado nas vísceras da fêmea, nenhum
animal, falante ou não, bípede ou quadrúpede, escapa.
De modo que o senhor Tarso Genro se
enquadra nessa regra, da qual nenhum da nossa espécie animal fica fora. Quer
dizer, é absolutamente impensável que
ele ou qualquer vivente deste Rio Grande tenha aparecido grudado numa
cerca de arame farpado em São Borja, como sobra de enchente, alheio àquela
receita da natureza.
Talvez tenha sido com a intenção de nos
fazer esquecer tal composição química e física nada divina, de que resulta esse
ente pelo qual a gente se apaixona à primeira vista, o ego,
que a legislação da divindade judaico-cristã estabeleceu no artigo 4º:
“honrarás pai e mãe”.
Felizmente, a avassaladora maioria dos
bípedes falantes vai além daquilo que ordena a divindade: mais do que honrar,
ama os pais. Diz-se maioria porque, é claro, existem exceções. Há indivíduos da
nossa espécie que, por uma razão ou outra, simplesmente ignoram suas matrizes
geradoras.
Não é o caso do senhor Tarso Genro. Se
existem pessoas a quem ele jamais negaria sua gratidão seriam seus pais. Só há
um detalhe: ele sempre os amou, sempre
os honrou, mas não tem o mesmo apreço pela profissão de seu pai, a
profissão que fez de Tarso Genro um homem integrado, muito bem integrado no contexto social e
político..
Explico. Seu pai foi professor e sua mãe,
dona de casa. Então, graças ao magistério, o senhor Tarso Genro cresceu, se fez
gente, teve boa educação. Foi graças ao discernimento de seus pais que ele
cursou uma escola pública de qualidade, que rivalizava com os melhores
estabelecimentos privados do Estado, o
“Maneco” (Colégio Estadual Manoel Ribas).
Isso quer dizer que, em outros tempos,
quando Tarso Genro era criança e adolescente, havia governadores que se
preocupavam com a escola pública, prestigiavam-na, e remuneravam dignamente os
mestres. Seu pai sustentava uma família de oito pessoas.
Hoje, sob seu estado de glória como o
governador, há escolas sucateadas, ou até transformadas em supermercado, e
alunos com má formação, necessitando de “cotas” para ingressar na universidade
pública. Aí pergunto, sem gritinhos e interjeições, mas com meu cinismo
envelhecido em barrís de desencanto: algum professor deste Estado consegue
sustentar oito bocas?
Resultado: na classificação nacional do “Enem”,
o Rio Grande do Sul não conquistou uma posição capaz de estufar de orgulho o
peito dos gaúchos. Com um modesto oitavo lugar, só deixando para trás Estados
tipo Sergipe, Rio Grande do Norte, Maranhão e outros do mesmo naipe, esteve
longe de servir como “exemplo a toda a
terra”. Só uma escola gaúcha, de Santa Maria, o Instituto Politécnico da UFSM,
teve destaque. Escapou do vexame porque pertence à rede federal de educação,
não é escola estadual. E na avaliação internacional, que a imprensa publica
hoje, a educação gaúcha, no que concerne a ciências, matemática e leitura, permanece na mesma posição dos
anos anteriores, porém, com menor número de pontos.
Também, pudera: sem remuneração, não há
qualidade! Gaúcho nenhum há de querer que “as façanhas” do senhor Tarso “sirvam
de modelo”: ele se despediu da antiga certeza de ter sido um bom aluno do
“Maneco”, quando cavou o abismo entre suas
promessas e suas intenções, aplaudindo um salário que não quer pagar para os
professores.
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