quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

FAÇANHAS QUE NÃO SERVEM DE MODELO
João Eichbaum

Daquela corrida de pega-pega entre óvulo e espermatozóide, que resulta num embrião acomodado nas vísceras da fêmea, nenhum animal, falante ou não, bípede ou quadrúpede, escapa.
De modo que o senhor Tarso Genro se enquadra nessa regra, da qual nenhum da nossa espécie animal fica fora. Quer dizer, é absolutamente impensável que  ele ou qualquer vivente deste Rio Grande tenha aparecido grudado numa cerca de arame farpado em São Borja, como sobra de enchente, alheio àquela receita da natureza.
Talvez tenha sido com a intenção de nos fazer esquecer tal composição química e física nada divina, de que resulta esse ente pelo qual a gente se apaixona à primeira vista, o  ego, que a legislação da divindade judaico-cristã estabeleceu no artigo 4º: “honrarás pai e mãe”.
Felizmente, a avassaladora maioria dos bípedes falantes vai além daquilo que ordena a divindade: mais do que honrar, ama os pais. Diz-se maioria porque, é claro, existem exceções. Há indivíduos da nossa espécie que, por uma razão ou outra, simplesmente ignoram suas matrizes geradoras.
Não é o caso do senhor Tarso Genro. Se existem pessoas a quem ele jamais negaria sua gratidão seriam seus pais. Só há um detalhe: ele sempre os amou, sempre  os honrou, mas não tem o mesmo apreço pela profissão de seu pai, a profissão que fez de Tarso Genro um homem integrado,  muito bem integrado no contexto social e político..
Explico. Seu pai foi professor e sua mãe, dona de casa. Então, graças ao magistério, o senhor Tarso Genro cresceu, se fez gente, teve boa educação. Foi graças ao discernimento de seus pais que ele cursou uma escola pública de qualidade, que rivalizava com os melhores estabelecimentos privados do Estado,  o “Maneco” (Colégio Estadual Manoel Ribas).
Isso quer dizer que, em outros tempos, quando Tarso Genro era criança e adolescente, havia governadores que se preocupavam com a escola pública, prestigiavam-na, e remuneravam dignamente os mestres. Seu pai sustentava uma família de oito pessoas.
Hoje, sob seu estado de glória como o governador, há escolas sucateadas, ou até transformadas em supermercado, e alunos com má formação, necessitando de “cotas” para ingressar na universidade pública. Aí pergunto, sem gritinhos e interjeições, mas com meu cinismo envelhecido em barrís de desencanto: algum professor deste Estado consegue sustentar oito bocas?
Resultado: na classificação nacional do “Enem”, o Rio Grande do Sul não conquistou uma posição capaz de estufar de orgulho o peito dos gaúchos. Com um modesto oitavo lugar, só deixando para trás Estados tipo Sergipe, Rio Grande do Norte, Maranhão e outros do mesmo naipe, esteve longe de servir como  “exemplo a toda a terra”. Só uma escola gaúcha, de Santa Maria, o Instituto Politécnico da UFSM, teve destaque. Escapou do vexame porque pertence à rede federal de educação, não é escola estadual. E na avaliação internacional, que a imprensa publica hoje, a educação gaúcha, no que concerne a ciências, matemática e leitura, permanece na mesma  posição dos anos anteriores, porém, com menor número de pontos.
Também, pudera: sem remuneração, não há qualidade! Gaúcho nenhum há de querer que “as façanhas” do senhor Tarso “sirvam de modelo”: ele se despediu da antiga certeza de ter sido um bom aluno do “Maneco”, quando cavou  o abismo entre suas promessas e suas intenções, aplaudindo  um salário que não quer pagar para os professores.




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