quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

MESSIAS NÃO ENVIADO POR DEUS
João Eichbaum


Segundo a Bíblia, Deus criou na terra dois gêneros: o animal e o vegetal.  Os minerais são ignorados pela escrita de Deus. O gênero animal é integrado por duas raças: a humana e a não humana.
Na raça não humana há várias espécies: bípedes e quadrúpedes, alados e não alados, peludos e lisos, voadores e rastejantes, habitantes da água, habitantes da terra, etc.
Eu disse espécies, não raças. Raças são apenas as divisões do gênero animal: humanos e não humanos.
Todos os humanos pertencem a uma só raça, dotada, isso sim, de várias características. Há os brancos e os pretos, os baixinhos e os esguios, os olhos puxados e os olhos redondos, os burros e os inteligentes, os bonitos e os feios, os machos, as fêmeas e aqueles que não são nem uma coisa nem outra. E por aí vai: é com todas essas características que se forma a raça humana, uma subdivisão do gênero animal.
Só encontra “raças” dentro da raça humana quem não conhece antropologia. No Supremo Tribunal Federal, por exemplo, já transitou em julgado a heresia de que os judeus são uma “raça”. Os legisladores e a grande imprensa - essa interessada em conflitos, que é o seu melhor produto - passam atestado de ignorância em antropologia, aludindo a crimes de “racismo”.
Nelson Mandela provou que não há “raças” dentro da raça humana. Ficou vinte e sete anos numa prisão, para provar isso. E quando de lá saiu, estava maduro para tornar realidade sua tese: brancos e pretos não são duas “raças”, mas primatas humanos com características diversas.
No seu desterro, atrás das grades, entregue à solidão, separado do mundo pelo concreto e pelo ferro, Nelson Mandela trabalhou o carisma que fez dele o único homem capaz de demonstrar que os seres humanos são conciliáveis, quaisquer que sejam suas características, exatamente porque pertencem a uma só raça.
Nelson Mandela conseguiu aquilo que nem Jesus Cristo conseguiu, embora esse seja dotado de divindade pela filosofia cristã: a integração, senão afetiva, pelo menos social, de seres humanos que se desprezavam, se odiavam, não se suportavam.
 A pregação básica de Jesus Cristo era a do “amor ao próximo”: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Ele teria sido enviado pela divindade “judaico-cristã”, para “salvar a humanidade”, livrando-a do pecado original. Até hoje, porém, não se tem notícia de que o sacrifício do “Cordeiro de Deus” tenha dado no que ele queria: temos que continuar nos batizando...
E olhem que o dito sacrifício não foi coisa diferente daquilo por que passam muitas criaturas, sem o privilégio de serem “filhas de Deus”. Vilipêndio, tortura, dor, morte anunciada, sem direito a ressurreição no terceiro dia e subida em corpo e alma para o céu, são acontecimentos de que estão cheias as manchetes de qualquer jornal do mundo.
Nem mesmo dentro da própria Igreja, que se diz fundada por Jesus Cristo, medra o amor incondicional “ao próximo”. Preconceitos, limitações e diferenças se tornam normas canônicas muitas vezes, aprofundando abismos entre as criaturas humanas.
Cristo queria salvar “a humanidade”, mas até hoje nem ele, nem seus seguidores deram conta do recado. Mandela foi mais modesto, queria apenas unir a África. E conseguiu mais que isso, sem quaisquer privilégios divinos.



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