MESSIAS NÃO ENVIADO POR DEUS
João Eichbaum
Segundo a Bíblia, Deus criou na terra dois gêneros: o animal e o vegetal. Os minerais são
ignorados pela escrita de Deus. O gênero animal é integrado por duas raças: a humana
e a não humana.
Na raça não humana há várias espécies: bípedes e
quadrúpedes, alados e não alados, peludos e lisos, voadores e rastejantes,
habitantes da água, habitantes da terra, etc.
Eu disse espécies, não raças. Raças são apenas as
divisões do gênero animal: humanos e não humanos.
Todos os humanos pertencem a uma só raça, dotada, isso
sim, de várias características. Há os brancos e os pretos, os baixinhos e os
esguios, os olhos puxados e os olhos redondos, os burros e os inteligentes, os
bonitos e os feios, os machos, as fêmeas e aqueles que não são nem uma coisa
nem outra. E por aí vai: é com todas essas características que se forma a raça
humana, uma subdivisão do gênero animal.
Só encontra “raças” dentro da raça humana quem não
conhece antropologia. No Supremo Tribunal Federal, por exemplo, já transitou em
julgado a heresia de que os judeus são uma “raça”. Os legisladores e a grande
imprensa - essa interessada em conflitos, que é o seu melhor produto - passam
atestado de ignorância em antropologia, aludindo a crimes de “racismo”.
Nelson Mandela provou que não há “raças” dentro da
raça humana. Ficou vinte e sete anos numa prisão, para provar isso. E quando de
lá saiu, estava maduro para tornar realidade sua tese: brancos e pretos não são
duas “raças”, mas primatas humanos com características diversas.
No seu desterro, atrás das grades, entregue à solidão,
separado do mundo pelo concreto e pelo ferro, Nelson Mandela trabalhou o carisma
que fez dele o único homem capaz de demonstrar que os seres humanos são conciliáveis,
quaisquer que sejam suas características, exatamente porque pertencem a uma só
raça.
Nelson Mandela conseguiu aquilo que nem Jesus Cristo
conseguiu, embora esse seja dotado de divindade pela filosofia cristã: a
integração, senão afetiva, pelo menos social, de seres humanos que se
desprezavam, se odiavam, não se suportavam.
A pregação
básica de Jesus Cristo era a do “amor ao próximo”: amai-vos uns aos outros,
como eu vos amei. Ele teria sido enviado pela divindade “judaico-cristã”, para
“salvar a humanidade”, livrando-a do pecado original. Até hoje, porém, não se
tem notícia de que o sacrifício do “Cordeiro de Deus” tenha dado no que ele
queria: temos que continuar nos batizando...
E olhem que o dito sacrifício não foi coisa diferente
daquilo por que passam muitas criaturas, sem o privilégio de serem “filhas de
Deus”. Vilipêndio, tortura, dor, morte anunciada, sem direito a ressurreição no
terceiro dia e subida em corpo e alma para o céu, são acontecimentos de que
estão cheias as manchetes de qualquer jornal do mundo.
Nem mesmo dentro da própria Igreja, que se diz fundada
por Jesus Cristo, medra o amor incondicional “ao próximo”. Preconceitos,
limitações e diferenças se tornam normas canônicas muitas vezes, aprofundando
abismos entre as criaturas humanas.
Cristo queria salvar “a humanidade”, mas até hoje nem
ele, nem seus seguidores deram conta do recado. Mandela foi mais modesto,
queria apenas unir a África. E conseguiu mais que isso, sem quaisquer
privilégios divinos.
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