João Eichbaum
Me meti, voluntariamente, no meio do
povo. Queria sentir o que sentem aqueles que trabalham o dia inteiro, alguns debaixo
do sol de quase cinquenta graus, fazendo
concreto, limpando jardim, construindo estrada, varrendo rua, pintando paredes
externas de edifício, ou se pendurando em qualquer coisa nas alturas, mais
próximos do sol, para tocar as “obras” da Copa, como o Beira-Rio, por exemplo.
Ou que trabalham o dia inteiro de pé, correndo para cá e para lá, como garçons,
como balconistas, faxineiros, etc.
Eu queria sentir com eles o que é o peso
da vida, o que é a humilhação provocada pela impotência, pela submissão à
vontade de outrem.
Fui para uma parada de ônibus às seis e
meia da tarde, onde uma multidão se aglomerava à espera de alguns dos poucos
coletivos que o sindicato dos rodoviários havia permitido trabalhar durante a
greve em Porto Alegre. Depois de meia hora de espera, lá no fundo da avenida
surgiu um... Sim, parecia que vinha do fim do mundo, porque não chegava nunca.
Mas, chegou e aí foi aquele atropelo, aquele corre-corre, cada qual querendo um
lugar... no corredor, claro. Mais apertados do que rato em guampa de boi, fomos
até a parada seguinte, onde uma multidão maior aguardava pelo coletivo.
Aí, achei que não agüentaria. O
empurra-empurra, o apertamento, o insuportável cheiro de suor, a disputa dos
narizes pelo pouco oxigênio que restava naquela lata debaixo do sol, foi uma
das piores coisas que senti na vida. E o ônibus ali parado, enquanto um por um
– mais do que isso era impossível – os candidatos aos lugares apertados no
corredor entravam.
Não sei se foram apenas cinco minutos,
Aquilo me pareceu uma eternidade.
Sorte que não havia outras paradas
e o coletivo chegou ao fim da linha,
onde filas imensas se concentravam, faziam curvas e curvas, com gente à espera
de um lugar para voltar para casa.
Mas, de tudo isso, o que mais causou
indignação foi a paciência e a conformidade do povo sofrido. Nem um pio. Nem
uma reclamação.
Onde andariam os mascarados que quebram
tudo, que protestam contra tudo – menos contra o PT, é claro ?
E vocês sabem quem depredou os ônibus? Exatamente
os sindicalistas, e não os “protestantes” de plantão.
Pobre povo, povo que não tem voz, não
tem tesão, se comporta como um cordeiro.
Esse é o povo que vai reeleger o PT. O PT
fundado por sindicalistas, os mesmos que ontem fomentavam greves e hoje não têm
autoridade moral para coibi-las, e o povo que se foda.
Então, estou aliviado, de consciência tranqüila.
Sofri o que o povo sofre, porque gosta de sofrer e vai continuar assim.
Mas eu vou cair fora: no PT é que não voto.