PROTESTOS
João Eichbaum
A semântica está mudando. Vocês se lembram
de que não há muito atrás, as correspondências epistolares carregadas de
formalismo se encerravam com a expressão “subscrevo-me com protestos da mais alta
estima e consideração”?
Pois é. Agora está tudo mudando. Em
primeiro lugar, já estão rareando as “correspondências epistolares”. Os
“e-mails” e os “torpedos” estão tomando conta, fechando o espaço da semântica e
do formalismo.
E tanta mudança, tanta desconsideração
para com a semântica, só podia dar nisso que deu: os protestos que estão em
moda hoje são outros e estão exatamente na contramão da “estima e da
consideração”.
Quer dizer, protesto hoje só serve como
instrumento da desestima e da desconsideração.
O pessoal começou em junho, protestando
contra o preço das passagens, foram adicionando outros protestos, contra os
políticos, contra a copa, etc.
Agora, aos poucos, estão retornando quer
com nome próprio de “protesto”, quer com o nome de “rolezinho”. Os “rolezinhos”
começaram em São Paulo, e Porto Alegre respondeu com “protestos” contra a Copa,
que acabaram desandando em depredação.
Em São Paulo, um grupo retomou os
protestos contra a Copa, debaixo de um lema: “se não houver direitos, não
haverá copa” e acampou lá no espaço do MASP, na Avenida Paulista. Por enquanto,
pacificamente.
Podem não dar em nada esses protestos
contra a Copa. O Blatter não ta nem aí, ele tem segurança garantida, e agora
ainda terá o exército, a marinha e a aeronáutica à sua disposição, para
realizar a Copa, custe o que custar. Tudo saindo do nosso bolso, claro, das
obras superfaturadas às balas de borracha.
Mas, bem que podem dar certo também esses
protestos, se desembocarem nas urnas.
E isso acontecerá, se os mercenários do
Felipão mostrarem que o futebol do Brasil já era e se os árbitros da FIFA não
estiverem com o nome do país ganhador no bolso.
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