DEUS
FOI SALVO PELOS HOMENS
João
Eichbaum
Religião e mitologia se confundem?
O mais das vezes, sim. O cristianismo, por exemplo, é
um típico exemplo de mistura de religião com mitologia. Poder-se-á dizer que há muitos mitos, sustentando o cristianismo. E razão é muito simples: é mais fácil conquistar o ser humano pela ilusão, do que pela realidade.
O mito da eucaristia é um desses sustentáculos: o pão,
ou uma broa de farinha de trigo, chamada hóstia, junto com o vinho, são
transformados no “corpo e no sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo”, mediante a
simples pronúncia de algumas palavras do padre.
Mas, cá pra nós, não há uma análise racional, não há
qualquer processo empírico que tenha força para convencer de que um milagre se
opera, através das palavras de um mortal comum, igual a qualquer primata, ou
até pior do que muitos da espécie.
Mas, em nome da religião, ou duma crença só compatível
com a ausência absoluta de raciocínio, há pessoas que admitem e não discutem
esse “milagre”.
Só que a crença, ou a “fé”, como é popularmente
designado esse sentimento irracional, às vezes se anula pelo próprio absurdo,
sem que o crente se dê por achado.
Um caso acontecido em Porto Alegre nesta semana serve
como exemplo desse fenômeno de destruição inconsciente da “fé”.
A capela de uma instituição, conhecida como Pão dos
Pobres, foi tomada pelo fogo. Tomados pela ansiedade de evitar que símbolos e
estátuas fossem destruídos pelas chamas, dois religiosos enfrentaram o sinistro
e um deles, entre o medo e a determinação, foi até o altar para salvar o “santíssimo”. Assim é chamado o
“corpo” de Cristo, ou o Deus Vivo, em forma de hóstia.
Ora, o normal para uma pessoa com “fé” seria acreditar
e confiar que o “próprio Deus” se salvasse, fazendo cessar o fogo. Afinal, se
“Deus tudo pode”, o que lhe custaria apagar o fogo?
Mas, ao invés de se deixarem levar pela “fé”, os
religiosos foram levados pela realidade da vida: o fogo queima, destrói,
respeita só a água, e...olhe lá!
Quer dizer, a “fé” deles perdeu a força, foi
neutralizada pela realidade da vida naqueles momentos. Sem se darem conta de
que estavam mandando a eucaristia para os domínios da mitologia, eles
arriscaram a própria vida para salvar a vida do seu “Deus”.
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