DEZ MILHÕES DE
AVE-MARIA
João Eichbaum
Hoje recebi um e-mail que dizia o
seguinte:
“O SANTO PADRE PEDIU ORAÇÕES PARA QUE
DEUS O PROTEJA E LHE DÊ FORÇAS
PARA CUMPRIR SUA DIFÍCIL TAREFA.
Nossa meta é chegar a dez milhões de Ave-Maria pelo Papa Francisco”.
Bom, quer dizer o seguinte,
basicamente: se não orarem pelo Santo Padre, nada feito, Deus não o protegerá
nem lhe dará forças.
Em outras palavras: Deus não tá nem
aí para os problemas pessoais do Santo Padre. E, de quebra, ignora a “difícil
tarefa” do Papa, ele que se vire. Se não rezarem por Sua Santidade, ó, deu pra
ele.
Nenhuma pessoa que tenha o raciocínio
funcionando irá chegar a outra conclusão, senão essa, a de que as orações são
absolutamente necessárias, para que o “representante de Deus na terra” seja
protegido e tenha êxito em sua missão. É preciso mexer com Deus, é preciso
despertá-lo, para que dê atenção ao seu “Vigário”.
Mas o pior ainda vem. Diz a mensagem:
“Rezemos pelo Santo Padre, para que a Mãe do Céu interceda por ele e o proteja
em seu ministério”.
Então é o seguinte, minha gente: nada
de negócio direto. A oração deve ser dirigida à Mãe do Céu, para que ela
interceda perante Deus pelo Santo Padre. Intermediação. É isso que se faz. Como
fazem os atravessadores aqui na terra. Ou seja, “assim na terra, como no céu”.
Pode? Alguém, minimamente
inteligente, admitirá uma coisa dessas, que a burocracia chegou ao reino dos
céus, que os pedidos têm que passar pela “Mãe do Céu”, para chegarem até Deus?
Já não chega de carimbos, de
petições, de protocolos aqui na terra? No céu a coisa funciona também desse
jeito? Ninguém consegue falar diretamente com o chefe, precisa sempre um
jeitinho de alguém influente?
A fé é uma coisa muito complicada,
minha gente. Não é para a minha inteligência, Está muito além dela, que se
acostumou à lógica. Onde não existe lógica, minha inteligência deixa de
funcionar.
Ora, se me ensinaram, no catecismo,
que Deus é onipotente, onisciente e onipresente, como é que eu posso admitir
isso, que sem oração, nada feito? Ele não conhece as dificuldades do Papa, as exigências da
natureza, que não combinam com a fé? É
necessário que venha a “Mãe do Céu” e lhe diga: “olha, Pai, dá uma mãozinha pro
Papa, que ele ta com problemas”?
Mas, para chegar lá, ainda precisa milhões Ave-Maria...
Decididamente, fé e raciocínio não podem ocupar o
mesmo espaço.
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