quarta-feira, 16 de julho de 2014

DEZ MILHÕES DE AVE-MARIA
João Eichbaum

Hoje recebi um e-mail que dizia o seguinte:
“O SANTO PADRE PEDIU ORAÇÕES PARA QUE DEUS O PROTEJA E LHE DÊ FORÇAS
PARA CUMPRIR SUA DIFÍCIL TAREFA.
Nossa meta é chegar a dez milhões de Ave-Maria pelo Papa Francisco”.
Bom, quer dizer o seguinte, basicamente: se não orarem pelo Santo Padre, nada feito, Deus não o protegerá nem lhe dará forças.
Em outras palavras: Deus não tá nem aí para os problemas pessoais do Santo Padre. E, de quebra, ignora a “difícil tarefa” do Papa, ele que se vire. Se não rezarem por Sua Santidade, ó, deu pra ele.
Nenhuma pessoa que tenha o raciocínio funcionando irá chegar a outra conclusão, senão essa, a de que as orações são absolutamente necessárias, para que o “representante de Deus na terra” seja protegido e tenha êxito em sua missão. É preciso mexer com Deus, é preciso despertá-lo, para que dê atenção ao seu “Vigário”.
Mas o pior ainda vem. Diz a mensagem: “Rezemos pelo Santo Padre, para que a Mãe do Céu interceda por ele e o proteja em seu ministério”.
Então é o seguinte, minha gente: nada de negócio direto. A oração deve ser dirigida à Mãe do Céu, para que ela interceda perante Deus pelo Santo Padre. Intermediação. É isso que se faz. Como fazem os atravessadores aqui na terra. Ou seja, “assim na terra, como no céu”.
Pode? Alguém, minimamente inteligente, admitirá uma coisa dessas, que a burocracia chegou ao reino dos céus, que os pedidos têm que passar pela “Mãe do Céu”, para chegarem até Deus?
Já não chega de carimbos, de petições, de protocolos aqui na terra? No céu a coisa funciona também desse jeito? Ninguém consegue falar diretamente com o chefe, precisa sempre um jeitinho de alguém influente?
A fé é uma coisa muito complicada, minha gente. Não é para a minha inteligência, Está muito além dela, que se acostumou à lógica. Onde não existe lógica, minha inteligência deixa de funcionar.
Ora, se me ensinaram, no catecismo, que Deus é onipotente, onisciente e onipresente, como é que eu posso admitir isso, que sem oração, nada feito? Ele não conhece as dificuldades do Papa, as exigências da natureza, que não combinam com a fé?  É necessário que venha a “Mãe do Céu” e lhe diga: “olha, Pai, dá uma mãozinha pro Papa, que ele ta com problemas”?
Mas, para chegar lá, ainda precisa milhões Ave-Maria...
Decididamente, fé e raciocínio não podem ocupar o mesmo espaço.



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