quarta-feira, 9 de julho de 2014

DO GRITO DO ITAQUERÃO À CHEGADA DOS “PANZER”
João Eichbaum


Quando a senhora Dilma ouviu de um povo bufão o brado retumbante, começou a “ter Copa”.  À paralisia e à estupefação que, a ela e ao Blatter, negaram qualquer outra expressão facial no momento, seguiu o silêncio, inaugurando a festa por conta própria. E logo, fazendo bater na tumba os ossos de Francisco Manuel da Silva, veio o hino berrado, chorado e desafinado.
O grito do Itaquerão impediu que o Blatter e a Dilma desempenhassem o papel que lhes tinha sido destinado no “script”. Mas, nada como bons artistas para salvar a moral de uma pátria conspurcada por palavrões. O centroavante Fred, depois de rápido estágio nos estúdios da Globo, estava lá para atrair os aplausos que o distinto público havia negado para Dilma e Blatter. Sem nunca haver contracenado com o coadjuvante, a apresentação saiu melhor do que qualquer ensaio. Foi Fred escorregar dos braços do zagueiro croata e lá estava o árbitro japonês, apontando lépido e faceiro para a marca do pênalti
E aí, minha gente, teve Copa, sim. Ninguém na FIFA é doido de rasgar dinheiro para permitir que o país sede do evento futebolístico internacional seja derrotado na primeira partida. Seria como continuar uma festa de casamento, da qual tenha  fugido a noiva, não com o noivo, mas com o vizinho.
Então, para desagrado dos que não queriam Copa, teve Copa, sim. E os ufanistas festejaram de peito estufado, reptando a turma do “não vai ter Copa”. E graças às traves, o Brasil passou pelo Chile, o patriotismo virou um rio de lágrimas, que  desaguou no mar do “oba, oba”. Foi a Fluoxetina nacional. O humor subiu, a Dilma subiu nas pesquisas. A Copa se tornou sucesso de bilheteria e público. Os estrangeiros, que deixaram a carne de segunda em casa, se lambuzaram com o filé nacional: não tinham vindo para a procissão em Aparecida, mas para a Copa. Em suma, choveu elogio para a Copa e sobrou menoscabo “pros não vai ter Copa”.
O espetáculo foi divido entre três parceiros: a FIFA ficou com as exigências da montagem do palco para a apresentação da peça, a seu modo, à sua feição. O cenário, a produção, a direção, a realização, os atores e, principalmente, a bilheteria eram dela. O Brasil ficou com a truculência: atropelou a Constituição no direito de ir e vir, e rasgou o Código do Consumidor, permitindo reserva de mercado e abuso de preços. O contribuinte ficou com a conta.
“Teve Copa”, sim, e o espetáculo foi envolvente, de uma embriaguez patriótica. Mais lágrimas arrancaram os desfalques da seleção do que a morte de inocentes, debaixo do viaduto inacabado e superfaturado pelo PAC da Copa. Alheios à tragédia, que só suscitou pesar oficial do governo, os que gostam de circo se aliaram aos que precisam de pão: choraram juntos, vendo o Neymar na maca estilo funerário da FIFA.
Aí vieram os “Panzer” alemães, acabaram com a festa e transformaram o país num aluvião de lágrimas. Talvez a pátria se reerga quando, no horizonte perdido, sumirem as roubalheiras via licitações de fachada, que às vezes se tornam assassinas.




Nenhum comentário: