terça-feira, 22 de julho de 2014

PLANETACHO

O HINO COM CHICLETE

A primeira Copa que acompanhei foi a de 70. Foi também a primeira transmitida ao vivo pela TV. O Brasil saiu campeão invicto, vencendo a Itália na final por 4X1. Os heróis do Tri cantavam o hino baixinho. Mal movimentavam os lábios. Entravam em campo com a naturalidade de quem acorda, toma um banho, esquenta o café e vai trabalhar.
O último gol da Copa de 70 é um exemplo disso: Pelé recebe a bola na entrada da área congestionada pela marcação italiana, dá uma olhadinha para a direita, por onde Carlos Alberto entrava em velocidade. O rei, como toda a sabedoria, dá um tapa na bola. Carlos Alberto quase furou a rede com um chutaço. Com calma, Pelé tocou a bola com um certo ar de desprezo. Ela ficou de mal uma semana.
Em 94, 24 anos depois, a seleção já não tinha tantos craques. Mas tinha Romário. Alguns cantavam o Hino bem alto e outros baixinho. Menos o Baixinho, é claro. Ele mascava chicletes. Confesso que eu achava um desrespeito. Onde já se viu mascar chicletes durante o Hino?
Mas quando começava a partida ele desfilava toda sua técnica e um repertório de jogadas incríveis. Fazia gols. Decidia jogos. Enfim, o cara era um herói nacional.
Vinte anos depois, 2014. Uma Copa aqui no quintal de casa. Nossa seleção cantava o hino nacional como se fosse um time de onze tenores, heróicos guerreiros nacionais, e se desmanchavam em lágrimas. Nos “filhos deste sol és mãe gentil”, cantado a capela, eles já estavam com o desespero dos primeiros cristãos que seriam jogados aos leões na arena lotada. Dor de barriga, suor e tremedeira parecia ser a escalação do nosso time.
De repente eu passei a achar que havia mais patriotismo no displicente mascar de chicletes de Romário em 94 do que no histérico e midiático hino nacional a capela de David Luiz e sua turma de 2014.
E assim se passaram 44 anos. A seleção de 70 permitiu que eu não tivesse traumas de infância por causa de futebol. A geração que assistiu a este vexame de nossa seleção vai levar esta derrota para o resto de suas vidas.
Dizem que no dia seguinte ao jogo fatídico, uma mãe tentava acordar o filho para ir à escola:
- Júnior, já são sete...
-Pô mãe, deixa eu dormir mais um pouco...me acorda quando eles fizerem oito...





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