DISCURSOS
João Eichbaum
Conta-se, no livro da mitologia judaica,
conhecido como “Antigo Testamento”, que um profeta foi jogado numa cova de
leões, para ser esquartejado pelas feras. Mas, nada lhe aconteceu. O profeta
teria olhado ternamente para seus virtuais algozes, que amoleceram e se
retiraram, cada qual para o seu canto.
Aí, como base no texto bíblico, um
gaiato emprestou uma explicação ao milagroso evento. Diz ele que, ao se
aproximarem os leões, o profeta teria dito: vocês podem me comer, mas depois
vai haver discursos. A perspectiva de ter que ouvir discursos afastou os leões:
preferiram ficar sem comida a terem que aguentar blablablabás.
Mas, até hoje, ninguém aprendeu a lição.
Qualquer festinha, qualquer reunião, casamento, batizado, enterro ou formatura
é motivo de discurso, de lengalengas que provocam bocejos, coceira no saco,
sono, vontade de ir embora.
Posse de presidente, governador,
prefeito, inauguração disso e daquilo, nada escapa ao sonífero das palavras dos
empossados, homenageados, dos que descerram placas e batem palmas para si
mesmo, etc.
Nessa semana, o presidente da Assembleia
Legislativa, cujo nome não sei e nem quero saber, fez um baita discurso, ao ser
empossado, dando início às maracutaias do parlamento, que os mais ingênuos
chamam de “trabalhos legislativos”.
Ninguém deu a mínima para o tal
discurso. Uns deputados abraçavam alguém, outros eram abraçados, alguns
atendiam celular, aqueles lá tiravam fotos, esses aqui abanavam para a plateia.
E assim foi. Um desperdício de tempo e do nosso dinheiro: palavras ao
vento.
Ontem foi a vez do Sartori falar.
Imaginem o Sartori falando, com aquele sotaque italiano e o jeito de padre. O
resultado foi o mesmo: ninguém lhe deu a mínima. A imprensa registrou em fotos
a falta de compostura dos deputados, a começar pela Manuela Dávila, uma que
virou deputada profissional.
Discurso, hoje em dia, é sinônimo de
palhaçada. Ninguém está nem aí. Principalmente em se tratando de discurso de
político. Todos os dizem a mesma coisa, e sempre a mesma coisa, prometendo um
“futuro” feliz. Só que esse futuro até hoje ainda não chegou. O futuro é falta
de assunto, falta de inteligência, falta de bom senso, falta de respeito pelo
saco dos outros.
Mas, tem uma coisa: deputados são pagos
para ouvir discursos, para contestar, para aplaudir, para conferir. É por isso
que o povo vota neles e os paga muito bem. Quem ganha o que eles ganham, tem
obrigação de ter saco e fingir educação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário