quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

DISCURSOS

João Eichbaum

Conta-se, no livro da mitologia judaica, conhecido como “Antigo Testamento”, que um profeta foi jogado numa cova de leões, para ser esquartejado pelas feras. Mas, nada lhe aconteceu. O profeta teria olhado ternamente para seus virtuais algozes, que amoleceram e se retiraram, cada qual para o seu canto.

Aí, como base no texto bíblico, um gaiato emprestou uma explicação ao milagroso evento. Diz ele que, ao se aproximarem os leões, o profeta teria dito: vocês podem me comer, mas depois vai haver discursos. A perspectiva de ter que ouvir discursos afastou os leões: preferiram ficar sem comida a terem que aguentar blablablabás.

Mas, até hoje, ninguém aprendeu a lição. Qualquer festinha, qualquer reunião, casamento, batizado, enterro ou formatura é motivo de discurso, de lengalengas que provocam bocejos, coceira no saco, sono, vontade de ir embora.

Posse de presidente, governador, prefeito, inauguração disso e daquilo, nada escapa ao sonífero das palavras dos empossados, homenageados, dos que descerram placas e batem palmas para si mesmo, etc.

Nessa semana, o presidente da Assembleia Legislativa, cujo nome não sei e nem quero saber, fez um baita discurso, ao ser empossado, dando início às maracutaias do parlamento, que os mais ingênuos chamam de “trabalhos legislativos”.

Ninguém deu a mínima para o tal discurso. Uns deputados abraçavam alguém, outros eram abraçados, alguns atendiam celular, aqueles lá tiravam fotos, esses aqui abanavam para a plateia. E assim foi.   Um desperdício de tempo e do nosso dinheiro: palavras ao vento.

Ontem foi a vez do Sartori falar. Imaginem o Sartori falando, com aquele sotaque italiano e o jeito de padre. O resultado foi o mesmo: ninguém lhe deu a mínima. A imprensa registrou em fotos a falta de compostura dos deputados, a começar pela Manuela Dávila, uma que virou deputada profissional.

Discurso, hoje em dia, é sinônimo de palhaçada. Ninguém está nem aí. Principalmente em se tratando de discurso de político. Todos os dizem a mesma coisa, e sempre a mesma coisa, prometendo um “futuro” feliz. Só que esse futuro até hoje ainda não chegou. O futuro é falta de assunto, falta de inteligência, falta de bom senso, falta de respeito pelo saco dos outros.


Mas, tem uma coisa: deputados são pagos para ouvir discursos, para contestar, para aplaudir, para conferir. É por isso que o povo vota neles e os paga muito bem. Quem ganha o que eles ganham, tem obrigação de ter saco e fingir educação.

Nenhum comentário: