DECADÊNCIA
João Eichbaum
Desde que se instalou na zona de
conforto da informática, a chamada “ciência jurídica” passou a ser regida pelo
princípio da mediocridade. As funções cerebrais do raciocínio e da lógica foram
substituídas pela função digital do “copia e cola”. Hoje, nas atividades
jurídicas e judiciárias, domina, mais do que nunca, o aforisma “nada se cria,
tudo se copia”.
Atualmente, o que deveria ser fruto
da sabedoria dos operadores do direito é confiado ao trabalho manual de estagiários,
secretários e assessores. O que esses não conseguem “copiar” e “colar” é criado
pela pobreza cultural e pela intelectualidade rasa de quem nunca venceu a
barreira de um concurso público.
Em consequência disso, a diarreia
mental se tornou uma epidemia dentro dos processos judiciais. Em qualquer
contenda perante juízos e tribunais são mais comuns os detritos intelectuais do
que o brilho da cultura. Além disso, a ignorância, facilitada pela informática,
gerou a preguiça de salivar o dedo que folheia processos.
Conheço desembargador que já tem
pronto os acórdãos de que é ou será relator. Ele confia a seus estagiários,
assessores e secretários a tarefa de copiar o parecer do Ministério Público,
“para a evitação de despicienda tautologia”.
Não, por favor, não me xinguem. A
expressão não é minha. Esse é o vernáculo do desembargador, que deve ter
adquirido seu diploma de bacharel, em módicas prestações, numa dessas centenas
de faculdades comerciais de Direito existentes no país. E que agora, graças aos
cortes no programa do financiamento para estudantes, por certo, começarão a desaparecer. – diga-se de
passagem.
Como não podia deixar de ser, os
estagiários, assessores e secretários do Ministério Público também são
“assessorados” pela informática. O resultado mais comum dessa epidemia é a
injustiça, porque o desuso das funções cerebrais deixa a cargo do computador o
que deveria ser elaborado pelo silogismo. O produto de tudo isso são sentenças
que confundem o aparelho excretor com as têmporas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário