terça-feira, 10 de março de 2015

TEMPESTADE EM COPO D’ÁGUA


João Eichbaum

Quando se junta a fome à vontade de comer, Deus nos acuda! E exatamente isso é o que vem acontecendo ultimamente. O Ministério Público, que gosta de aparecer, para ser incensado, para pintar nas pesquisas como organização confiável, ou até para justificar os altos salários acrescidos de “auxílio-moradia” de seus integrantes, faz de tudo para figurar nas manchetes.

E a grande imprensa se presta como um cordeirinho para encher a bola daqueles bacharéis. A imprensa quer vender, precisa vender, tem contribuições previdenciárias atrasadas, responde a processos por dano moral na justiça comum, peleia na Justiça do Trabalho, para não pagar os direitos sociais de ex-empregados. Por tudo isso ela tem que vender.

A expectativa criada em torno do “listão dos corruptos” não podia ser melhor, em matéria de “marketing”. Todo mundo de olhos e ouvidos atentos, todos subjugados pela curiosidade parida pelo procurador geral da República, o senhor Janot, e atiçada pela imprensa.

Aí saiu o tal de listão, enchendo a boca de jornalistas e as páginas dos jornais. Como se fosse grande novidade. Como se todo mundo não soubesse que o pessoal entra pobre e analfabeto na política e de lá sai rico e doutor. Como se alguém pudesse, de sã consciência, apontar para um político e dizer: este é o honesto!

Todo mundo sabe que a política brasileira nunca se desgarrou da desonestidade. Mas a necessidade de vender, que tem a imprensa, e a de aparecer, que tem o Ministério Público, veste os últimos fatos como se de surpresa e de estupefação geral se tratasse.


Daqui a algum tempo nada mais se terá a dizer sobre a corrupção e sobre os corruptos. O tempo e a benevolência da lei ajeitarão tudo: absolvição por falta de provas, processos prescritos, prisões domiciliares, indultos. E a roubalheira continuará. Mas a imprensa e o Ministério Público manterão o prestígio, porque ninguém gosta mais de ser enganado do que o povão.

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