MAL TRAÇADAS LINHAS
João Eichbaum
Desconcertados diante malogro a que foram
conduzidos, em tentando aplicar seu costumeiro modus operandi na operação “Lava Jato”, os “grandes criminalistas”
partiram para ofensivas nada ortodoxas dentro do ordenamento jurídico.
Primeiro lançaram nota de repúdio aos
maus procederes do Judiciário, que se negou a lhes abrir todas as portas, em
troca de sorrisos, elogios e, quiçá, mimos para estagiários e assessores de
juízes.
Desaguou no vazio a tal de “nota”. O
Judiciário não mudou, ninguém conseguiu dobrar o verdadeiro alvo das críticas, Sérgio
Moro, cujo nome, mais por temor, certamente, do que por prudência, não figurava
na diatribe dos bacharéis.
Então, os “grandes criminalistas”
lançaram mão de outra tática. Redigiram uma “carta aos jovens criminalistas”, a
pretexto de invectivar a decisão do STF, que expungiu, por rejeição da
axiologia, uma qualificação não escrita no art. 5º, inc. LVII da CF: a
presunção juris et de jure.
A epístola, nada evangélica, mistura
história com ressentimentos, Gonçalves Dias com Chico Buarque, gíria com poesia
épica. E de suas entrelinhas vazam duas lições: que a ignorância é uma coisa
maravilhosa, e que a prescrição, parida pelo traseiro de quem senta em cima dos
processos, devolve a inocência ao cafajeste.
Não sobra uma linha sequer, para ensinar
aos “jovens criminalistas” o silogismo que desata a exegese científica no
Direito Constitucional. Principalmente nesse caso, através do qual o STF
restaurou a justiça como valor, colocando pobres e ricos no mesmo nível:
eliminou a diferença entre quem pode bancar advogado nos tribunais superiores,
contando com a graça da prescrição, e quem não o pode, e tem como destino
imediato a cadeia.
Na missiva dos bacharéis não há lugar
para essa lógica, porque a poesia, o ressentimento mal digerido e o pouco trato
com o vernáculo não lhes dão espaço.
Isso é ruim. É sinal de que “os grandes
criminalistas” sucumbiram também aos maus eflúvios da arte de escrever. Ficaram
devendo a elegância no estilo e a força da filosofia do Direito na argumentação.
A continuar assim, sem o diapasão da lógica para lhes afinar o discurso,
acabarão falando o idioma da senhora Rousseff.
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