quinta-feira, 26 de junho de 2008

COLUNA DO PAULO WAINBERG

SE COMER BOMBOM, NÃO DIRIJA
Paulo Wainberg.


Exatamente, minha cara, não ouse comer um bombom recheado com licor na festa de aniversário do filho de uma amiga se, depois, for dirigindo para casa. Você estará cometendo um crime que, além de lhe custar quase mil reais, porá você na cadeia e não adianta chorar, pedir perdão e jurar que nunca mais.
A desfaçatez legislativa no Brasil só é menor do que os cerca de três bilhões e seiscentos milhões de reais por ano que nos custam senadores e deputados federais, isto apenas no “oficial”.
Tolerância zero não é isto que esta lei absurda que acaba de entrar em vigor significa. Muito pelo contrário. O crime consiste em dirigir embriagado o que não é a mesma coisa que dirigir após ingerir bebida alcoólica.
Porém nossos congressistas, devidamente sancionados por nosso Presidente, resolveram inverter o mando de campo, mudando a regra no meio do jogo: bebeu um xarope e dirigiu, se ferrou! Enquanto isso os corruptos contumazes, mensaleiros, propineiros, armadores e integrantes de esquemas, charlatães e mentirosos, gozam dos sagrados direitos de ampla defesa, espaços gigantescos nos cenários apropriados, auto-louvação e louvação alheia, desafios impetuosos e silêncios arrogantes para, no fim dos tempos, saírem de mãos limpas e caras lavadas, sem uma única multinha que seja, nem mesmo para pagar o tempo desperdiçado.
E, como de hábito, esquemas devem estar sendo armados para aproveitar essa verba extra que a nova lei disponibilizou e que, dentro de três a quatro anos a Polícia Federal vai descobrir, juntamente com o Ministério Público, gerando dezenas de CPIs “éticas” e processos judiciais postergáveis.
Em nome da transparência.
Naquilo que o Brasil precisa realmente de tolerância zero, temos tolerância máxima. Naquilo que o rigor da lei deveria desabar com toneladas de indignação sobre os delinqüentes juramentados aplicam-se os prazos processuais, os recursos, as instâncias e, novamente no fim dos tempos, a prescrição e a impunidade.
Não sou apólogo da bebida, muito pelo contrário. Acho que quem dirige embriagado deve ser severamente multado e preso. Automóvel mata muito, mas não sei se a maioria dos acidentes é causada por motoristas embriagados. Acho até que não. Aliás, se considerarmos a quantidade de carros que circula no país durante um dia, associada às condições das nossas estradas e à falta de planejamento de nossas cidades, o número de acidentes, estatisticamente falando, é ínfimo. Não sei se já fizeram essa conta mas assim, à olho nu, já é possível esta conclusão. Acontece que os jornais, as rádios e as TVs enfatizam cada acidente fatal – e fazem muito bem – porque a morte no trânsito é extremamente chocante, fútil e inútil. Morrer em acidente é a interrupção inglória e sem propósito de vidas em andamento. Pior do que isto é morrer com uma bala perdida de um tiroteio alheio.
De leis bombásticas e inócuas este país está cheio e nós, o povo, estamos chegando no limite de nossa tolerância.
Três bilhões e seiscentos milhões por ano, entre salários e benefícios! Quanto nos custa um discurso de seis horas no Senado vazio, com dois membros presentes em troca de um jantar? Quanto nos retornou, desse custo?
É o que você deve se perguntar, minha cara senhora, meu prezado amigo, quando sentir o doce gosto de chocolate derretendo em sua boca e perceber, tomado de pavor, que junto com ele vem um licorzinho posto ali só para complicar a sua vida.
Se tossir, não tome xarope, se tomar xarope não dirija e nunca, repito, nunca coma panquecas de maçã flambadas porque elas são flambadas sabe no que? No conhaque, demônio, no conhaque!
O que eu pergunto é: quanto falta para que nós, o povo, atinjamos a tolerância zero?

Um comentário:

Donato disse...

Tenho a impressão de que estamos caminhando para uma ditadura. Nossos direitos estão sendo cassados em todas as esferas, e cada vez mais são dados poderes aos órgãos públicos, será que foi por acaso que nos desarmaram sem desarmar os bandidos, e nosso direito de plantar árvores em nossas casas e podá-las quando necessário, não podemos dirigir se ingerirmos 1g de álcool.
Parece-me que o governo está se armando de todas as formas, para nos punir caso ousemos questioná-lo. Quando teremos tolerância zero contra os bandidos e políticos?
Existiria alguma forma de loby das empresas que vão fornecer os etilômetros ao custo de R$ 5.000,00 por unidade.
O que será feito com a brutal arrecadação gerada pelas multas.
Foram construídos previamente presídios suficientes para as pessoas flagradas?
Nas barreiras policiais, até então, buscava-se identificar pessoas armadas ou procuradas pela justiça, agora a prioridade são as pessoas que ingeriram álcool, qual delas representa maior risco à sociedade?
Quantas mortes ocorrem por causa dos maus políticos, que desviam as verbas que deveriam ser utilizadas na saúde, na conservação das estradas, estas leis absurdas deveriam vir acompanhadas da contra-partida, gostaria de prender o prefeito por deixar um buraco na rua, pois este, tanto quanto um motorista embriagado pode causar um acidente de trânsito, inclusive vitimando pessoas.
Só existe um sentimento em relação aos políticos que sustentamos, indignação!