quinta-feira, 4 de setembro de 2008

COLUNA DO PAULO WAINBERG

TEM DIAS QUE EU NÃO AGUENTO
Paulo Wainberg



Às vezes me pergunto: terei ódio aos políticos? E, com sábia ponderação me respondo: Não.
E acho que é uma boa resposta porque, sem políticos estaremos perdidos definitivamente e não apenas quase perdidos, como andamos atualmente.
Antes dos políticos a humanidade era explicitamente selvagem. Depois deles, graças ao bom capataz da grande planície sideral, a humanidade é implicitamente selvagem.
Nas cavernas o Homem queria e pegava, não pedia licença e não dizia obrigado. Depois, quando o primeiro prefeito assumiu, só ele podia pegar sem pedir licença e sem dizer obrigado.
Para não ser enfadonho, salto alguns milênios e chego aos, digamos, dias atuais.
Graças aos políticos somos civilizados o que, em termos políticos, significa que podemos reclamar quando eles pegam sem pedir licença e sem dizer obrigado, mesmo que da nossa reclamação pouca coisa resulte.
As guerras ficaram mais organizadas graças aos políticos.
A corrupção, graças aos políticos, tem ética.
E graças aos políticos se pode prometer qualquer coisa e, depois da eleição, esquecer, mudar de idéia e fazer exatamente o contrário.
Se não fossem os políticos, qual seria o poder das igrejas? Como é que um time de futebol seria administrado? O que seria das garotas de programa e dos cabarés de luxo?
Como é que uma primeira dama faria o rancho do palácio, se não fossem os políticos?
De que modo um país invadiria o outro, exterminar-se-iam raças e povos, trucidar-se-iam populações inteiras, dilacerar-se-iam tribos, cometer-se-iam atentados terroristas e tomar-se-ia sopa de verduras em albergues, se não fossem os políticos?
Faço um enorme esforço de abstração e não consigo imaginar todas essas coisas sem o sentido profundo do diálogo, do conchavo e do ajuste de interesses pessoais que os políticos introduziram, qual supositório gigantesco, no ânus da civilização.
Não, não posso odiar políticos, suas mútuas reverências, seus nobres gestos, suas grandezas de posição e seu inesgotável, interminável e insaciável desejo de promover o bem comum.
O conceito de bem comum é político e não filosófico e muito menos moral, como pretendem alguns reacionários das idéias, esses tolinhos.
Bem comum, como as palavras parecem que estão dizendo, é ganhar popularidade e votos para a próxima eleição, distribuindo pequenas vantagens ao comum, isto é, ao vulgo, ou melhor, o povão e grandes vantagens aos parceiros de profissão, políticos, tais como cargos rendosos em organizações políticas destinadas a distribuir o bem comum. Ou empregos milionários aos amigos íntimos dos políticos que, por não serem políticos, felizmente estão aí para contrabalançar com o comum, o vulgo, ou melhor, o povão e suas eternas queixas, reclamações, exigências e passeatas de protesto.
Uns chatos, palavra de honra, querendo que os pobres políticos resolvam tudo por eles, até mesmo na hora do licor, do espumante ou, dependendo da hora, do uísque.
Se há coisa que os políticos detestam é o povão, a massa desconhecida, sem nome nem cara que, entra dia, sai dia, se move de um lado para o outro, nas cidades, nos campos e na estrada, sempre se queixando, sempre se queixando.
O coitado de um Senador mal tem tempo de distribuir as tarefas inadiáveis para os seus vinte e cinco assessores, ou então ficar horas discursando num teatro vazio, ou ainda confraternizar com outro pobre Senador que, homem de honra impoluta, acabou de ser absolvido num inquérito parlamentar.
Falando nisso, onde anda o senador Collor? E o Renan Calheiros, esse injustiçado? O que é feito dele, homem que com extraordinário denodo ultrapassou as mazelas absurdas que o povão, esse chato, lhe impôs só por causa de um casinho extra-conjugal e de uma pensão – coisa pouca – que uma empreiteira, por pura simpatia pessoal, pagava por ele. Sem falar nos bois que lhe foram absurdamente atribuídos, com chifres e sem bolas, sem nota fiscal nem relógio ponto? Cadê? Por que ninguém mais fala em Renan Calheiros? Continua ainda proferindo sábias palavras nos corredores e anfiteatros da Egrégia Câmara Alta? Collor, sabe-se, foi estudar inglês em Miami porque, pobre homem, adora ver filme americano sem legenda. Alguém pode me dizer qual foi a última revelação feita pelo Clodovil, Clô para os íntimos, nobre deputado federal? E outros, e outros...
Pois é, e tem gente que reclama que falta dinheiro para o Presidente presidir esse ignaro rebanho humano, chato e inconveniente, só porque todo o ano os deputados e senadores tem que gastar três bilhões e seiscentos mil reais, uma merreca perto do dinheirão que falta para a Saúde.
O povão simplesmente se recusa a deixar o homem trabalhar. Tem gente por aí reclamando da nova CPMF que, agora sim, vai resolver esse problema quinhentista do país, a Saúde.
Felizmente nem tudo está perdido e Roberto Dinamite explodiu o Eurico Miranda da presidência do Vasco e exigiu que o Romário devolva a camisa onze ao time, ora onde já se viu?
Finalmente alguém toma uma atitude neste País!
Por aqui, na terrinha, o(a) Governador(a) ganha sete mil por mês e estão achando ruim passar para dezessete. Para que um(a) governador(a) precisa tanto dinheiro se um brigadiano pode viver com seiscentos e uma professora com mil e pouco, se é que ganha isso?
Não. Decididamente não tenho ódio de políticos. Tenho ódio é do povão, dessa gente chata e ingrata, que só reclama e nunca agradece tudo o que os políticos fazem por eles.
Não adianta, sempre foi assim, ninguém respeita ninguém e querem jogar a hierarquia no lixo.
Onde é que já se viu coisa igual?
Onde?
É fácil meu amigo basta abrir um olho que você verá tudo isso estampado na sua frente, a qualquer hora do dia e da noite, como se fosse uma bofetada permanente, estalando sem parar na sua cara.
É, tem dias que eu não agüento, juro pelas barbas do Toulouse, meu maltês de estimação.

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