segunda-feira, 15 de setembro de 2008

COLUNA DO PAULO WAINBERG

SÓ PARA QUEM PODE
Paulo Wainberg



Não é para fazer gênero, bancar o moralista ou vergastar o populacho com ar de pernóstica superioridade, mas dois filmes pornográficos são suficientes para o resto da vida.
Mulheres e homens profissionalmente em ação, entra-e-sai vaginal, anal e bucal, gemidos guturais, ardentes, ferozes, estimulantes e esgotados têm, queiram ou não, seus limites em todas as escalas de som, velocidade, propagação à velocidade da luz, intensidade e níveis de satisfação, limites evidentes por cima, por baixo, de quatro, por trás, de ladinho, ao contrário e vice-versa.
Mulheres lascivas adorando jorros de esperma em rostos e seios, homens depilados a acentuar a grandeza peniana, vaginas escancaradas, ânus perfunctórios e olhares pré-definidos de sedução, alegria e prazer se auto-esgotam em cinco minutos de lufa-lufa, gerando uma espécie de torpor no espectador, mesmo o mais sacana.
Não é que eu não goste mas... é cansativo.
Após quinze minutos de incessante mexe-mexe, bota-e-tira, geme-e-grita e os infalíveis “yesss”, “babys” e “more, more” me sinto tão excitado quanto quando assisto a um documentário sobre as técnicas de irrigação e produção de nabos gigantes, na Lapônia.
Ora, direis, então não gostas de sexo? Acaso perdeste o tesão? O que não vislumbras em tão lindas mulheres e homens tão machos que te fazem perder o senso a ponto de entediares-te como quem, pela décima noite seguida, no jantar, como salmão defumado?
E eu vos direi: Transai para entender-me. Pois só quem transa pode ter ouvidos para ouvir gemidos, escutar sussurros e entender o coito.
Bilaquianamente falando, é isso.
Na prática é diferente e doravante, mulheres que me perdoem, é do ponto de vista masculino que o assunto segue.
O que é que os atores pornográficos têm que os outros homens não? De que modo eles conseguem tanta e constante rigidez que os torna capazes de tudo aquilo, à vista de câmeras, iluminadores, contra-regras, diretores, produtores, diretores de fotografia, assistentes de produção, Office-boys e uma mulher que está ali para uma ação mecânico-hidráulica, sem um pingo, um pinguinho sequer de emoção, tesão, apreço ou carinho?
Qual é o extraordinário poder que os faz aptos, a um simples toque ou nem isso, para as práticas inter e infra-fêmura, sodomistas e gomorrianas, eretos e altivos qual estandarte bélico a sustentar o galhardão em irredutível posição de ataque, pronto a penetrar e defenestrar, com ou sem vaselina, cuspe ou beijinho no pescoço?
E o volume, ilustre passageiro? Verdadeiros portentos em tamanho, envergadura, amplitude e espessura?
O que é isso? Onde é que já se viu?
E eles ali, firmes e com cara de enfado, como se fosse assim com todo o mundo. Afrontando sem pudor ou receio a grande massa “normal” do gênero masculino, reduzindo os adequadamente dotados ao sub-nível de subalternos incompetentes que precisam um pouco de, vá lá que seja, estímulo emocional agregado ao fisicamente natural para que o seu mediano baluarte diga ao que veio.
Franchement, aí está mais um bom motivo para evitarmos, os homens, tal gênero cinematográfico.
Já não nos bastassem os vestiários depois do futebol ou do tênis, as saunas masculinas e outros locais onde nos vemos frente a frente com o do outro, medindo forças e quase sempre nos deprimindo, assistir filmes pornográficos reduz a auto-estimativa valorativa da virilidade própria, quantitativamente falando, a índices perigosos do definitivo complexo de inferioridade.
Não assista, meu bom homem. Já não lhe bastam as comparações infantis com réguas escolares ou a risadinha safada de alguma garota? Você ainda precisa mais contundência para constatar que, apesar de tudo o que sua mãe sempre lhe disse, você não passa de um, no máximo, medianamente servido?
Sei, você deve estar pensando, se acaso ainda sofresse de priapismo? Mas nem isso. Príapo, você sabe, foi um deus grego, filho de Dionísio e Afrodite. Fruto da união entre o deus do vinho com a deusa do amor, quer mais? Hiper-dotado e sempre ereto, não sem motivo chamado de o deus da fertilidade.
Priapismo é aquela disfunção (?) que mantêm você erétil o tempo todo, com ou sem vontade, tendo ou não mulher por perto. O abençoado com esta doença (?) jamais, mas jamais mesmo, teve que dizer: “é a primeira vez que isto me acontece”. E jamais, mas jamais mesmo, teve que ouvir: “Calma meu bem, não precisa ter pressa, isso acontece com tudo o mundo”.
E jamais, mas jamais mesmo, teve que se cobrir com o lençol e ficar se perguntando o que deu errado na sua vida, por que isso só acontecesse com você e, o pior de tudo, o que ela vai pensar a seu respeito.
Porém nem tudo é tragédia.
Neste mundo moderno em que a rapidez é a tônica e você tem que se decidir em frações de segundo, uma dúvida você jamais terá, aliás, você viverá com uma certeza absoluta: você não será nunca um ator de filmes pornográficos.
Pelo menos é uma coisa a menos para você se preocupar.

Nenhum comentário: