terça-feira, 9 de setembro de 2008

VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS

O GRAMPO
João Eichbaum

Grampo pra mim sempre foi coisa de mulher: um pedacinho de arame ondulado, que antigamente só existia preto, difícil de abrir e que, por isso mesmo, era usado para prender o cabelo das mulheres. Depois o grampo foi evoluindo, começou a aparecer em várias cores e até na pura cor do metal, uma coisa sem graça, pedaço de lata, bem maior que os primeiros.
Mas hoje, na era do Lula e do Gilmar Mendes, essa dupla que serve de tiro ao alvo para o povão, nos bares, nos ônibus, nos trens, nos aviões, nas rodoviárias, nos aeroportos, onde quer que existam duas pessoas, com opiniões formadas ou não, um dos dois ou ambos são objetivos de pedradas.
Pois é. O Gilmar Mendes se queixou do grampo. E não foi pro bispo. Foi pro Lula mesmo. E aí o Lula armou o maior barraco, mandou apear o pessoal da tal de ABIN. Ah, não sabe o que é? Se não sabe o que é, então você é desimportante, não atrai fofocas, não exige que alguém esteja colado na sua nuca ouvindo o que você está dizendo. A ABIN é a agência de bisbilhotices nacionais, que eles chamam de Agência Brasileira de Informações.
Pois essa ABIN andou se metendo na vida do Gilmar Mendes, escutando o que ele falava – mas mais ouvia do que falava – com um senador. O senador fazia uma petição de ouvidos, que o Gilmar Mendes deferia através de interjeições e adjetivos, tipo, “mas isso é grave”, e coisa e tal. Até que o diálogo telefônico saiu na imprensa. Pensa bem, é claro que o Gilmar Mendes ficou puto da cara. Ainda mais com os antecedentes que ele tem, esses de despachar com velocidade supersônica dois “habeas corpus”, num dia só, a favor de um banqueiro. Imaginem que perigo ronda o Gilmar Mendes!
Pois é assim, e o senhor Gilmar Mendes não sabia. Ele, como nunca foi juiz, não podia saber que “juiz só fala nos autos”, que juiz não despacha por telefone. Ele não sabia que o juiz natural, de carreira, discreto por natureza, ou até em razão dos inúmeros processos que o escrivão lhe põe sobre a mesa, não tem tempo para falar sobre seus processos através de telefone e tem tantos processos, que nem pode se lembrar do conteúdo de cada um deles. Então o juiz de carreira não tem medo de grampo nenhum, porque ele não se compromete ao falar no telefone.
E não só os juízes. Qualquer pessoa honesta, seja ela quem for, não tem medo de grampo. Só tem medo de grampo quem tem rabo, quem tem o que esconder debaixo do respectivo rabo. Só tem medo de grampo quem não pode dizer pra todo mundo, alto e bom som”minha vida é um livro aberto”, como o povinho diz por aí.
O cargo público não pode ter segredos. O homem público é o que o adjetivo quer dizer: um homem público. Se esse tal de grampo mexeu com tanta gente, gerou tanta indignação, é porque há coisas, na república, que o povo não pode saber. E isso é mau. Principalmente se o povo não pode saber o que se passa no Judiciário do senhor Gilmar Mendes.

Nenhum comentário: