segunda-feira, 8 de setembro de 2008

COLUNA DO PAULO WAINBERG

CRÔNICAS AMOROSAS "AD INFINITUM"

SALMOS PAULIANOS
Paulo Wainberg


Você. Ou tu, tanto faz. Fico no você e no tu.
Você que habita meus pensamentos mais solertes, minhas emoções mais sórdidas, meu ambiente mais transgressor e, quem diria?, mais cafajeste.
Você que freqüenta meus sonhos mais eróticos, minhas fantasias mais obscenas, meus desejos mais primitivos de beijar tua boca, abraçar teus braços, apertar teu corpo contra o meu, de frente, de costas, para lá e para cá.
Você, que me lança olhares sorrateiros logo desviados e que, entre um brinquedo e outro, deixa no ar os limites do permitido e acena com desvarios proibidos e sugestões do que poderia ser.
Você que me seduz sem querer ou por querer.
Você que provoca e silencia, pergunta e não responde, diz e recua, você, tu que invades o momento infinito antes que o sono me conduza e que, nos sonhos, cede e recusa, oferece e nega, aparece e desaparece, qual uma promessa do que poderia ser ou do que poderia ter sido.
Tu que abraças um pouco a mais e deixa, lânguida, tua mão escorrer entre meus dedos, num alô ou num adeus.
Você que me flagra literário e não me reconhece pessoa.
Onde anda você? Onde estás?
Você que promete sem cumprir e... cumpre sem prometer, apenas para manter a ilusão e acelerar a fantasia?
Onde estás?
Talvez não saibas que sou um imenso e interminável coração, suscetível à paixão e à grandeza do amor despojado, do desejo furibundo, da contravenção afetiva, ó minha amada!
Temes, sei lá!, revelações, indiscrições e, porque é assim que é, a perda de posições conquistadas a muito custo, em nome do futuro, do vir a ser.
E acreditas que não sei como fazer para tranqüilizar tua alma inquieta, teus medos e inseguranças?
Ó amada minha, amada assim como és, nunca sofrerás por causa do meu amor porque ele é teu, para você e você será a rainha do meu castelo de areia, do meu palácio de biscoitos, recheados com leite condensado e sabores mis que te elevarão aos prazeres grandiosos, aos sorrisos gratos e devolverão você aos rituais cotidianos, mais rica e mais feliz.
Compensar tua admiração com a sensualidade furiosa que teu corpo exige é, ah minha amada, um desejo supremo a embalar meus dias, minhas noites e meus porres, nos melhores ou piores bares que minhas caminhadas encontram, aqui e ali, nessas ruas da cidade.
Talvez não saibas que entre uma obrigação e outra, entre um dever ou outro, sento em bancos de praça a imaginar-te, imaginar você em meus braços, adorada e quente, ansiosa e trêmula tanto quanto forem a suas emoções, infratoras de amores isentos, projetos vitais e virtuais anseios.
Ah você, amada minha, menina em alma de mulher, mulher em sorrisos de menina, sonhadora e iludida, não se iluda, criança, não atormente seu coração alem dos tormentos que ele pode suportar. Deixe-se conduzir, qual flor nas águas de um rio, ao encontro definitivo com o mar quando, agridocemente perfumada, perceberás a verdadeira natureza da paixão, sua grandiosa intensidade, paixão de dúvidas, de medos e dos mais sufocantes decibéis.
Você, que me lê e não me escuta, que me escuta e não me ouve, que me olha e não me vê.
Onde anda você?
Estou ensurdecido com o clamor do seu silêncio altivo como quem, de um dia para outro, adormece e não acorda.
Você já disse tanto sem falar, coisas que ouvi nos seus olhos, no seu sorriso, na cor de suas faces e a tudo escutei, do jeito que quis escutar.
Você que é meu derradeiro pensamento, antes de adormecer, meu primeiro pensamento ao acordar, você que desconheço e que tanto quero conhecer, não acha que é hora de se apresentar?

Nenhum comentário: