quinta-feira, 18 de setembro de 2008

PIEGUICES

DEUS É PAI”

João Eichbaum

Há afirmações religiosas que partem do princípio de que todo mundo é ignorante. Por exemplo, dizem “Deus é Pai”.
Então comecemos por você. Você que é pai ou pretende ser pai. Que tipo de filho você quer gerar? Digamos, por hipótese, que você tenha o dom do onisciência e que, por isso mesmo, sabe o que vai acontecer no futuro. Você geraria um filho ladrão? Um filho bicha? Um filho assassino? Um filho vagabundo, que não quer nada com o batente? Um filho que nunca vai ter sorte na vida? Um filho doente, débil mental, com vida meramente vegetativa?
É claro que não. Por pior que você seja, por mais animalescos que sejam seus sentimentos, você não vai querer gerar um filho assim. É verdade que, na hora do bem bom, você pode até estar nem aí, o que quer é conquistar a fofinha, mostrar que você é bom de cama, etc. etc. Mas, nem nessa hora, se lhe fosse permitido pensar e prever o futuro, nem na hora do bem bom, você teria intenção de gerar um filho idiota, ladrão, vagabundo, etc..
Pai com paternidade perseguida, ou pai por acaso, nenhum primata humano geraria um filho com a intenção de torná-lo infeliz. Isso é próprio da espécie.
Mas será que entre os deuses a coisa é diferente? Os deuses que são oniscientes, que conhecem o passado, o presente e o futuro, geram filhos infelizes de maneira intencional? Se eles já sabem, de antemão, o que será da vida desse filho, mergulhado na dor, na miséria, no ilícito, na imoralidade, porque o geram, mesmo assim? Para se divertir com a desgraça?
Não. Me poupem. Não pode haver deuses assim. Se há seres com tais poderes, deuses não são, porque na perfeição de um deus não cabe o sadismo. O sadismo é próprio dos humanos e eles não o usam com a finalidade de gerar filhos. De um ato sádico até pode ser gerado um filho, animalescamente. Mas isso é próprio dos homens e não dos deuses.
Então, não me venham com essa de que “Deus é Pai”, a partir da consideração de que a maioria dos humanos é infeliz ou, na melhor das hipóteses, flutua entre a felicidade e a infelicidade, ao sabor da sorte.
Se quiserem inventar um “Deus”, que o inventem com outras características, que lhe tirem dos ombros a responsabilidade de ter criado o mundo e, de lambuja, o ser humano. Pai é quem cria – já diz um ditado muito conhecido. Mas quem cria mal, não pode ser pai.
Em se proclamando que “Deus é Pai”, além de se ofender a um suposto “Deus”, se profana o sentido da paternidade, atribuindo-se a esse “Deus” um sadismo que nem nos homens existe, que dirá nos deuses. Por tudo isso, tem carradas de razão Camilo Castelo Branco quando diz: “a pior calúnia que se pode assacar a um ente perfeito é imputar-lhe a criação do homem”.

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