terça-feira, 28 de junho de 2011

O SHOW DA VIDA

João Eichbaum

Você que é cristão, que acredita no deus judaico-cristão e, por isso, lhe atribui a criação do homem, me responda: você já pensou, seriamente, na vida? Já pensou qual é a sua finalidade no contexto do universo? Já pensou por que razão você veio ao mundo? Já pensou no que levou o deus judaico-cristão a criá-lo ? Logo você, entre milhões de outros espermatozóides?
Nunca li nada a respeito, mas sei que alguns ou vários ou, quem sabe, todos os filósofos já se ocuparam desse assunto.
E você, cristão, se é que já pensou nisso, chegou a alguma conclusão?
Certamente, não.
Mas você já assistiu ao BBB, não assistiu? Se não assistiu, pelo menos ouviu falar desse chamado “reality show”, cuja matéria prima é unicamente o primata chamado humano. Afinal, a imprensa sempre mantém um foco sobre esse espetáculo, e é impossível ignorá-lo totalmente.
Rememore.
Criaturas humanas, homens e mulheres, confinadas num espaço em busca da vida (leia-se: uma baita grana), sem se desprender das exigências de sua animalidade, mas atreladas à virtual eliminação. Todas de olho naquela finalidade específica, a conquista da grana, mas sem abrir mão da concupiscência, que é a mola mestra da continuação da espécie, e sem perder a consciência de que, de uma hora para a outra, pode ocorrer a defenestração.
Pois, assim é a vida. A vida é um “reality show”, que se desenrola no espaço limitado de um único, entre milhares de planetas, e cuja regra principal é a eliminação (a morte). Alguns conseguem a “grana”, representada em riqueza, bem estar , notoriedade e felicidade. Outros, são eliminados no caminho dessa busca, ou até mesmo antes de se darem conta do que é, realmente, a vida.
A única diferença entre o “reality show” da televisão e o da vida é que, nessa, existem os que vegetam à beira do caminho, ou seja, os que não participam, não têm objetivos, e se contentam em ficar à margem, porque a vida não lhes empresta sentido algum.
Falo dessa casta social com a qual a sociedade pouco se ocupa: os mendigos, os moradores de rua e outros tantos que o IBGE não conta.
Com esse quadro pela frente, pergunto: existe alguma resposta filosófica para essa bagunça social, que é o “reality show” da vida? Os filósofos que já se ocuparam do tema levaram em consideração os marginais, os que moram debaixo das pontes, os que dormem nas calçadas, nos bancos das praças?
Não sei, não li.
E se alguém, lendo filósofos, encontrou a resposta, que me mande.
Para mim, o “reality show” da vida, onde tanto se salienta a riqueza e a celebridade, como a miséria e o anonimato, não é senão a prova de que somos unicamente primatas, para quem só foi reservada uma finalidade: morrer, mais hoje ou mais amanhã.
A injustiça social corre por conta dos primatas mais espertos e não é culpa de deus nenhum. Se existisse algum deus dirigindo o “reality show” da vida, ele não permitiria injustiças. Porque o se divertir com a desgraça dos outros é próprio dos homens e não dos deuses.

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