João Eichbaum
Foi o medo que obrigou os homens a
inventarem deuses. Todo mundo sabe que, não podendo explicar os fênomenos da
natureza que os aterrorizavam, nossos ancestrais atribuiam sua força e sua
violência à ira dos deuses.
Aí, com a evolução de sua inteligência, a
cultura e o domínio da ciência, o primata humano passou a descobrir a causa dos
fênomenos naturais, a ponto de prever alguns. Mas, esbarrou no maior de todos
os fenômenos, a morte, a finitude, com a qual não se conforma. Então, preferiu
continuar acreditando nos deuses que os antepassados inventaram, com a
esperança de que esse misterioso fenômeno seja a porta da morada da divindade.
Mantendo a crença nas entidades divinas,
ou acreditando na existência de outra vida depois da morte, o homem aperfeiçou
essa crença, deixou de adorar o sol, a lua,etc, mas não abriu mão dos mitos. O
mito é que divide os crentes, faz deles budistas, maometanos, induístas, cristãos
e por aí vai. E a cada mito corresponde um deus, ou o mesmo deus se divide em
personalidades e objetivos distintos para um ou outro credo. E cada crença
pinta o seu deus como acha que ele deva ser.
No credo católico, que é um dos ramos do
cristianismo, a divinidade e seus agregados são representados por pinturas ou
esculturas e espalhados por igrejas, ruas, praças, monumentos, banners, etc. E
ai de quem destruir, danificar ou troçar dessas representações feitas de
cimento, papel ou tinta: será considerado “sacrílego”.
Pois, há pouco tempo atrás, num distrito
de Santa Maria, conhecido como Arroio Grande, colônia ardorosamente católica,
um raio decepou a cabeça do enorme Jesus Cristo que era um dos monumentos do
lugar. E agora está lá o Cristo, literamente sem cabeça.
A natureza desrespeitou o Cristo. Um dos
fenômenos naturais, que levou os homens a inventarem deuses, agora se abate
sobre a cabeça do Cristo de Arroio Grande, mostrando que nossos ancestrais não
tinham razão.
A cabeça do Cristo foi esfacelada como
foram esfacelados os motivos que levaram o primata a inventar deuses: não são
os deuses que dominam a natureza.
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