João Eichbaum
Nenhum ser animal aceita a morte.
Racionais e irracionais a recusam, cada espécie a seu modo. Nos animais
irracionais essa recusa é desenvolvida através do instinto de defesa, e eles o
exercitam de conformidade com sua natureza, uns com violência, outros com
subterfúgios inerentes à sua estrutura biológica: o leão com suas garras, o
mosquito com suas ferroadas.
Nos animais racionais, o móbil da recusa da
morte é o instinto de defesa, próprio de todos os animais. Seu exercício,
porém, é praticado através dos mais variados instrumentos, ditados pela
racionalidade.
Mas, nuns e noutros, nos racionais e nos
irracionais, a morte é inevitável. Podem alguns escapar dela hoje, amanhã, mas
não escaparão para sempre.
E a razão para a morte é muito simples:
todos os animais são feitos de matéria perecível.
Essa verdade, porém, não é digerida pela
maioria dos animais racionais.
Ao constatar isso, os primeiros
espertinhos da vida inventaram a religião, escolhendo como matéria prima do seu
produto a morte, matéria que nunca faltará.
Os que inventaram o deus específico do
cristianismo, chamado Jesus Cristo, transformaram a morte no maior dos troféus,
colocando na boca do dito Cristo as promessas do paraíso, da vida eterna, da
vindita contra os ricos, porque “será dos pobres o reino dos céus”. E para
reforçar essa idéia de que a morte é apenas uma passagem, conta a mitologia
cristã que o Cristo ressuscitou.
Na proporção do crescimento da raça
humana, cresceu também a morte, a despeito do exercício de defesa concentrado
nos avanços da medicina. E aí mais religiões apareceram, porque existe matéria
prima para todas.
O fortalecimento das crenças e das
seitas cria uma rede inextrincável de superstições, de que hoje poucas pessoas
escapam. É tão forte o seu domínio que nem alguns seres humanos aparentemente
mais inteligentes se dão conta de que estão nivelados por baixo, se
identificando com os primatas de antanho que enterravam seus mortos com o
material necessário para viverem no outro mundo, ou com os modernos, que
entregam suas moedinhas para o Edir Macedo, ou
que agradecem ao seus deus pelos golos que fazem, os jogadores de
futebol.
Tudo graças a essa matéria prima
inesgotável, chamada morte.
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