quinta-feira, 28 de junho de 2012

A ÚNICA MATÉRIA PRIMA INESGOTÁAVEL


João Eichbaum

Nenhum ser animal aceita a morte. Racionais e irracionais a recusam, cada espécie a seu modo. Nos animais irracionais essa recusa é desenvolvida através do instinto de defesa, e eles o exercitam de conformidade com sua natureza, uns com violência, outros com subterfúgios inerentes à sua estrutura biológica: o leão com suas garras, o mosquito com suas ferroadas.
 Nos animais racionais, o móbil da recusa da morte é o instinto de defesa, próprio de todos os animais. Seu exercício, porém, é praticado através dos mais variados instrumentos, ditados pela racionalidade.
Mas, nuns e noutros, nos racionais e nos irracionais, a morte é inevitável. Podem alguns escapar dela hoje, amanhã, mas não escaparão para sempre.
E a razão para a morte é muito simples: todos os animais são feitos de matéria perecível.
Essa verdade, porém, não é digerida pela maioria dos animais racionais.
Ao constatar isso, os primeiros espertinhos da vida inventaram a religião, escolhendo como matéria prima do seu produto a morte,  matéria  que nunca faltará.
Os que inventaram o deus específico do cristianismo, chamado Jesus Cristo, transformaram a morte no maior dos troféus, colocando na boca do dito Cristo as promessas do paraíso, da vida eterna, da vindita contra os ricos, porque “será dos pobres o reino dos céus”. E para reforçar essa idéia de que a morte é apenas uma passagem, conta a mitologia cristã que o Cristo ressuscitou.
Na proporção do crescimento da raça humana, cresceu também a morte, a despeito do exercício de defesa concentrado nos avanços da medicina. E aí mais religiões apareceram, porque existe matéria prima para todas.
O fortalecimento das crenças e das seitas cria uma rede inextrincável de superstições, de que hoje poucas pessoas escapam. É tão forte o seu domínio que nem alguns seres humanos aparentemente mais inteligentes se dão conta de que estão nivelados por baixo, se identificando com os primatas de antanho que enterravam seus mortos com o material necessário para viverem no outro mundo, ou com os modernos, que entregam suas moedinhas para o Edir Macedo, ou  que agradecem ao seus deus pelos golos que fazem, os jogadores de futebol.
Tudo graças a essa matéria prima inesgotável, chamada morte.

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