CAI O PANO
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com
A novela do “mensalão” teve
um fim melancólico, clima de constrangimento.
Visivelmente perplexo,
o ministro Celso de Mello, o chamado decano da Corte, perguntou ao presidente
Joaquim Benedito se ele estava encerrando o julgamento do “mensalão”, recebendo
resposta peremptória: sim.
É que, sendo o ministro
mais antigo, com muita cancha, tendo sido, inclusive, presidente da casa, o
Celso de Mello conhece muito bem as regras, as formalidades e, sobretudo, o
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. Alguma coisa naquele universo de
solenidades, estava faltando, mas o ministro preferiu calar.
Pior que isso foi a incerteza,
a insegurança demonstrada por vários ministros em relação às penas de multa
aplicadas, com a Rosa Maria Weber mostrando um ar de quem não entendia nada. E
no fim a cena de que foram protagonistas
Joaquim Benedito e o Marco Aurélio de
Melo.
Joaquim Benedito se
aprumou para fazer um agradecimento público a assessores que tinham colaborado
com ele no exame (e certamente nas conclusões e na lavratura do voto também) do
“mensalão”. Sem pedir a palavra, Marco Aurélio se manifestou contrário àquele
tipo de pronunciamento, porque, no seu dizer, seria inusitado no Supremo Tribunal
Federal.
Aí, o Joaquim, lutando
contra a tentação de perder a serenidade, retrucou, afirmando que o fato também
era inusitado e por isso merecia menção. E continuou falando, ignorando a
manifestação do Marco Aurélio. Este, dizendo que não precisava ouvir o que o
presidente estava a dizer, pediu licença e se retirou do plenário, como uma
criança descontente que, no meio do brinquedo, sai reclamando em nome do “ego”
ferido: “não brinco mais”.
O ambiente se anuviou.
Um pasmo silencioso percorreu o rosto dos
ministros. Joaquim Benedito Barbosa não teve como esconder seu desapontamento,
perdeu o fio do discurso, gaguejou, procurou palavras, mas não as encontrou.
Mas, não deixou de homenagear seus “colaboradores”.
O Fux, numa intervenção
inútil, tentou botar panos quentes, elogiou o Joaquim Benedito, mas acabou
pedindo que o presidente não fizesse constar o elogio em ata.
Coisa de crianças.
Coisa de gente que não tem cabeça de juiz. Picuinhas que depõem contra a
majestade que se poderia emprestar à justiça, não fosse ela composta por homens que não se
dão muito bem com o bom senso e confundem o seu “ego” com o cargo que lhes
competia honrar.
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