quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


E AGORA ?
João Eichbaum

Será que o Celso de Mello não se vacinou contra a gripe?
De repente o ministro deixa de comparecer à sessão do pleno do Supremo Tribunal Federal, alegando gripe, exatamente no momento em que o mundo jurídico do país, sufocado de expectativas, estava de olho nele.
A questão da competência para cassar mandato de deputado, condenado em sentença criminal, tinha ficado empatada na última sessão. Não se sabe por que cargas d’água, o presidente da Corte resolveu apitar,  apontando para o centro do campo, quando a torcida já estava esperando o pênalti, que seria batido pelo Celso de Mello.
Bem, como todo mundo sabe, mal havia sido encerrada a sessão, choveram críticas sobre os votos dos ministros que arredam a aplicação do § 2º do art. 55 da Constituição Federal, sob o argumento de que, sendo a perda do mandato efeito da sentença condenatória, a Câmara dos Deputados não tem que meter o bedelho.
A primeira manifestação, nada diplomática, foi a do presidente da Câmara, Marco Maia. Seguiram-se comentários e pronunciamentos de vários políticos e juristas, botando lenha na fogueira. De todas as manifestações atribuídas a juristas, nenhuma agasalha a tese dos ministros que se alinharam ao voto do Joaquim Benedito.
Salvo engano ou desinformação, não se tem notícia de  impasse semelhante, de  tensão tão aguda entre os poderes Legislativo e Judiciário em toda a história deste país. Tensões e desacertos houve entre Executivo e Judiciário nos períodos ditatoriais, mas não na vigência plena da democracia, que assegura o exercício da missão constitucional dos três Poderes da República.
O clima pesou, e pesou feio, está fedendo a ruptura institucional.
E sobrou para o Celso de Mello, porque de seu voto depende o desempate (ou o empate, a partir do voto do ministro Peluso, já aposentado).
Não é difícil imaginar a situação do Celso de Mello, com a sensação de ter sobre a jugular uma espada de Dâmocles: será abatido por uma rajada de culpa, se votar com o relator, desencadeando uma crise sem precedentes e de solução imprevisível, a afetar a harmonia entre os Poderes; será havido como pusilânime, se votar com o revisor, comandando uma retirada sem glória, principalmente depois de ter dado sinais, em apartes, de que votaria com o relator.
Metido em camisa-de-onze-varas pela afoiteza do Joaquim Barbosa, e pela anêmica argumentação dos votos que seguiram aquela linha, o ministro Celso de Mello teve que contrair uma gripe.
 Ou teria faltado vacina em Brasília?

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