segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


DA INDIGNIDADE

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

O terror, estampado no rosto do menino, e o desespero da professora que o abraça, na foto de página inteira do jornal, dizem mais do que qualquer manchete, mais do que qualquer texto, e só perdem, em força, para verdade escrita, há muitos anos, por Rogério de Freitas, escritor português: “foi por isso que os homens inventaram Deus, para nos compensar de uma dignidade que nós não alcançamos”.
O massacre ocorrido em Newtown, nos Estados Unidos, com a morte de vinte crianças numa escola primária, somado a tudo o que se vê diariamente no Brasil e no mundo, a tudo quanto nos legou a história, onde se ressaltam os horrores praticados em nome de Deus e das religiões, reforça o alicerce da tese que nega a dignidade como valor ínsito no homem.
A repetição é cansativa, mas desse cansaço não se pode poupar a ninguém, antes que os filósofos e os religiosos se rendam à evidência de que o homem é o mais violento dos animais e não nasce com dignidade alguma.
O homem só teria uma dignidade inata, se a dignidade fizesse parte da sua estrutura fisiológica.
Mas, assim não é. A dignidade é um valor, aleatoriamente agregado a outros valores, que permitem a convivência desse animal gregário chamado ser humano.
Observe-se o advérbio: aleatoriamente. Isso quer dizer que alguns, apenas alguns seres humanos absorvem esse valor denominado dignidade, incorporando-o ao seu modo de conviver.
 Sim, porque a dignidade só tem valor enquanto virtude de convivência, representando renúncia aos impulsos da animalidade. Não fosse o homem gregário, pudesse ele viver isoladamente, de nada lhe valeria a dignidade.
É exatamente a rejeição à dignidade que se torna responsável pelos desmandos no mundo, é a falta de dignidade que torna muitos líderes tiranos, que produz políticos corruptos, que leva políticos mentirosos a assumirem o poder.
O que domina o ser humano, em primeiro lugar, é a animalidade. Se não a domar, quer voluntaria, quer involuntariamente, ele continuará a ser dominado por ela.
O recente massacre de Newtown, assim como os atos de maldade do homem em toda a história, os de ontem, os de hoje e os de amanhã, são reflexos do domínio da animalidade, por deficiência das funções cerebrais, quer sejam tais deficiências inatas ou provocadas por agentes químicos externos.




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