DA INDIGNIDADE
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com
O terror, estampado no
rosto do menino, e o desespero da professora que o abraça, na foto de página
inteira do jornal, dizem mais do que qualquer manchete, mais do que qualquer
texto, e só perdem, em força, para verdade escrita, há muitos anos, por Rogério
de Freitas, escritor português: “foi por isso que os homens inventaram Deus,
para nos compensar de uma dignidade que nós não alcançamos”.
O massacre ocorrido em
Newtown, nos Estados Unidos, com a morte de vinte crianças numa escola
primária, somado a tudo o que se vê diariamente no Brasil e no mundo, a tudo
quanto nos legou a história, onde se ressaltam os horrores praticados em nome
de Deus e das religiões, reforça o alicerce da tese que nega a dignidade como
valor ínsito no homem.
A repetição é
cansativa, mas desse cansaço não se pode poupar a ninguém, antes que os filósofos
e os religiosos se rendam à evidência de que o homem é o mais violento dos
animais e não nasce com dignidade alguma.
O homem só teria uma
dignidade inata, se a dignidade fizesse parte da sua estrutura fisiológica.
Mas, assim não é. A
dignidade é um valor, aleatoriamente agregado a outros valores, que permitem a
convivência desse animal gregário chamado ser humano.
Observe-se o advérbio:
aleatoriamente. Isso quer dizer que alguns, apenas alguns seres humanos
absorvem esse valor denominado dignidade, incorporando-o ao seu modo de
conviver.
Sim, porque a dignidade só tem valor enquanto
virtude de convivência, representando renúncia aos impulsos da animalidade. Não
fosse o homem gregário, pudesse ele viver isoladamente, de nada lhe valeria a
dignidade.
É exatamente a rejeição
à dignidade que se torna responsável pelos desmandos no mundo, é a falta de
dignidade que torna muitos líderes tiranos, que produz políticos corruptos, que
leva políticos mentirosos a assumirem o poder.
O que domina o ser
humano, em primeiro lugar, é a animalidade. Se não a domar, quer voluntaria,
quer involuntariamente, ele continuará a ser dominado por ela.
O recente massacre de
Newtown, assim como os atos de maldade do homem em toda a história, os de
ontem, os de hoje e os de amanhã, são reflexos do domínio da animalidade, por
deficiência das funções cerebrais, quer sejam tais deficiências inatas ou
provocadas por agentes químicos externos.
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