PAPO FURADO
DE POLÍTICO DE TERCEIRO MUNDO
João
Eichbaum
Ninguém me
disse. Eu vi e ouvi com estes sentidos que estão em pleno funcionamento, sem
óculos e sem aparelho de surdez.
A Dilma,
que ontem passou a tarde passeando em Roma
por nossa conta, disse para quem
quis ouvir – e estava cheio de puxassacos em roda dela – que queria falar com o
papa Francisco sobre a fome.
Falar sobre
a fome, tudo bem. Ela podia dizer pra ele que estava com fome, para ver se ele
a convidaria para almoçar, como convidou a Cristina Kirscher, aquela viúva
faceira que se produziu e parecia uma mocinha, falando om o papa.
Mas, não.
Acho que a Dilma tem consciência de sua aparência pessoal e sabe que não tem
produção que resolva. Então não era por aí. Ela queria falar com o papa sobre a
fome dos outros. Ela mesma deu a entender isso. E para tanto, se preparou muito
bem: se hospedou no mais luxuoso hotel de Roma, ao invés de pegar um quartinho
nos fundos da embaixada brasileira.
Muito bem.
Muita gente fala sobre a fome no mundo. Tá cheio de demagogos por aí, falando
isso. A começar pelo o Lula, que fala sobre esse assunto de barriga cheia, e bota
barriga nisso. A Rose que o diga.
Mas, a
Dilma foi mais além. Ela disse, alto e bom som, que o Brasil – sim esse país
dos corruptos mesmo, vocês não estão enganados. Ela disse que o Brasil – caiam
duro meus amigos – tem a tecnologia contra a fome. Sim, tecnologia contra a
fome.
Vocês já
imaginaram? Tecnologia contra a fome.
Se havia
algum estrangeiro entre os jornalistas para quem ela deitava aquela fala
enrolada, o cara deve ter ficado de boca aberto: “ o quê, tecnologia , “know
how”, para combater a fome?”]
Aí, a Dilma
já foi abrindo o jogo: sim, tecnologia para combater a fome, mantendo todas as
famílias com renda mínima.
Manjaram?
Pois é. Esmola agora mudou de nome. É
tecnologia. E essa tecnologia tem nome específico: “bolsa-família”. Essa é a
tecnologia do terceiro mundo: tiram de quem trabalha, para pagar o trago de
quem não trabalha.
E ela não
ficou nem vermelha, ao chamar o “bolsa-família” de “tecnologia”.
Rubor no
rosto da Dilma?
Num país de
corruptos, a vergonha se decompõe, o compromisso com a honestidade se
transforma em indiferença, e o orgulho, na hora de dizer asneiras, desaparece.
Quem governa um país de corruptos nem com pó
de carmim consegue se ruborizar. E certamente ela nem se ruborizou também quando
o papa, no sermão, falou para todos os políticos ouvirem: “ il vero potere è il
servizio”, (o verdadeiro poder é o serviço) e não o aproveitamento das
mordomias com o dinheiro do povo.
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