terça-feira, 26 de março de 2013


O INQUÉRITO DE SANTA MARIA:
ESPETÁCULO CIRCENSE OU COMÍCIO POLÍTICO?

João Eichbaum

Vaidade, sede de vingança ou servilismo político?
É a primeira pergunta que aflora no bestunto de quem  conhece o Processo Penal, as  leis especiais, a Constituição Federal, as criaturas humanas e os animais políticos.
Já se falou muitas vezes, aqui neste espaço, sobre o espetáculo em que foi transformado o inquérito policial que apurou responsabilidades pelas mortes ocorridas na boate Kiss em Santa Maria.
Os delegados não soltavam um pum sem virem para a frente das câmaras, explicando detalhes. Nada do que fizeram deixou de ser notícia, e com estardalhaço. A impressão que se tem é de que estavam deslumbrados, que se sentiam o centro do mundo e tinham na mão o cetro da cocada.
Mas, não é só isso.
Para quem conhece a organização da polícia é muito estranho que a coordenação do inquérito tenha cabido ao delegado regional, cujas atribuições são administrativas e não de polícia judiciária.  Santa Maria é uma das maiores cidades do interior do Rio Grande do Sul. Se não tiver um delegado de polícia com atribuição específica para apuração de homicídios, pelo menos terá mais de um delegado com diversas atribuições.
O delegado regional de polícia tem a seu cargo o comando administrativo de um território policial que compreende vários municípios. Daí a pergunta: essa administração terá ficado ao deus-dará? E outra pergunta: todos os inquéritos iniciados nas delegacias de polícia da região já foram concluídos? Todos os crimes resolvidos? E mais uma: dos delegados com atribuição de polícia judiciária na cidade de Santa Maria nenhum terá capacidade para trabalhar num inquérito simples?
Sim, tem mais essa. O inquérito era extremamente simples: a materialidade foi aferida pelo Instituto Geral de Perícias. A inquirição das vítimas não requeria, por isso, longos depoimentos. E a inquirição de meia dúzia de indiciados não requer muito tempo.
O inquérito se tornou “trabalhoso” por causa da mídia, que trabalhou, e vendeu, como nunca, em cima da desgraça alheia. E a polícia de Santa Maria aproveitou disso para aparecer, fazendo do inquérito exatamente aquilo que a mídia queria.
Mas, tem mais. Lágrimas também fazem parte dos espetáculos circenses. Em lacrimejante artigo publicado no jornal local de propriedade da RBS, o delegado regional fez o que nenhuma autoridade policial faria: confessou um sentimento pessoal, dizendo que estava chorando por uma prima sua, por seus tios e por seus alunos. A prima e os alunos tinham sido vítimas da tragédia.
Então, todos temos o direito de supor que o delegado traçou as linhas do inquérito em cima de seus sentimentos. Poderia ter se dado por suspeito, e deveria fazê-lo, embora a lei o não obrigue. A lei, não, mas a moral, sim. Por que ele, logo ele, que vem a público confessar a sua dor, assumiu a coordenação do inquérito?
Ah, sim. E aí vem a terceira hipótese: sua liderança talvez fosse necessária para atender a interesses políticos. Porque, afinal, de todos os delegados de polícia de Santa Maria ele é o único que foi escolhido pela companheirada do Tarso Genro.


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