quarta-feira, 13 de março de 2013


E NO PIRATINI NÃO VAI NADA?
João Eichbaum

Atenção, estudantes de Direito: não existe o verbo “convidar” em processo penal.  O “ajuste” de data, local e horário,  de que trata o artigo 221 do CPP, não é sinônimo de “convite”. Convite se faz para casamento, enterro, formatura,  missa de sétimo dia. Mas o prefeito Cezar Schirmer foi “convidado” para depor na delegacia de polícia de Santa Maria.
Todo mundo sabe que, sem o alvará do Corpo de Bombeiros, nenhuma empresa pode funcionar. E que de nada adiantam os “alvarás” da Prefeitura, sem o alvará dos bombeiros. E todo mundo sabe também que o que ocorreu na boate Kiss foi um incêndio, e que o Corpo de Bombeiros até hoje não explicou, e jamais explicará porque deu o seu “nihil obstat”  para o funcionamento de uma casa noturna com uma só porta, sem saídas de emergência, sem indicações de saída, com extintores de incêndio pifados.
Só os desinformados não sabem que a parte principal, a questão da segurança, está na área de competência do Estado do Rio Grande do Sul. E que as mortes ocorreram exatamente por falta de segurança contra o fogo, e não por questões sanitárias ou ambientais - as únicas que cabem na competência do Município.
Porque o prefeito foi “convidado” e o governador não?
Se o prefeito foi “convidado” para explicar como funcionam as secretarias, por que  o governador não foi também “convidado”, para explicar por que não funciona a comunicação entre seus subordinados, um diz uma coisa e outro diz outra?
Só para lembrar. Logo que ocorreu a tragédia, uma das  primeiras autoridades  requisitadas para dar explicações foi o Comandante do Corpo de Bombeiros. Teso, ereto, de cabeça erguida, o militar sempre deu a mesma resposta, certinha, decorada, sem ricto algum de emoção no rosto, com uma incrível capacidade de não piscar: estava tudo regular, de acordo “com as normas vigentes”.
A mesma cantilena foi repetida pelo Comandante Geral da Brigada Militar. Já o diapasão do sub-comandante estava afinado em outra tonalidade. Para ele, a situação da boate estava irregular, porque não tinha  PPCI – Plano de Prevenção Contra Incêndio – e não poderia ter sido emitido o alvará, que é atribuição do Corpo de Bombeiros.
Outro oficial, o Chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros estava deitando fala para imprensa, dizendo, entre outras maravilhas, “que a população também deve ter cuidado com o lugar que frequenta”, quando alguém lhe cochichou alguma coisa. Era um telefonema do governador, dando um “pára-te quieto” e tapando a boca do subordinado: ele estava desautorizado a falar sobre o caso.
Cobrado pela mordaça imposta ao oficial, o comandante-em-chefe Tarso Genro fez uma revelação estupefaciente: “o chefe dos bombeiros não falou demais. Ele falou completamente errado. Bombeiros não autorizam o funcionamento de nada. Quem dá o alvará é a prefeitura.”
Diante de tal dissonância, por que não “convidar” o governador a dar o tom, afinando a orquestra para o espetáculo forense que se seguirá?
Desculpem. Acho que estou dizendo bobagens. Quem ordenou o inquérito foi o governador. Tanto que ele deu o figurino, as medidas e o número do procedimento: “profundo, incisivo e rápido”. Então, tá pra lá de explicado: estrela-guia, não precisa de “convite”.





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