SERÁ A ÚNICA ARMA?*
Por Paulo Roberto Gotaç
O cidadão brasileiro, desalentado com a
qualidade de sua classe política, envergonhado com o nível de corrupção que
permeia toda a rede de poder, atormentado com os equívocos cometidos pelos
encarregados de conduzir a política econômica, responsáveis por uma inflação
persistente que dissipa seu salário, preocupado, via mesmos agentes, com os
índices raquíticos de crescimento e com a visão recorrente, exibida pelos
meios de comunicação, na qual assiste ao triste espetáculo de estradas
intransitáveis, encarecedoras, componentes de um sistema logístico e de
infraestrutura inadequados ao escoamento competitivo da produção
agrícola, tenta, talvez inutilmente, vislumbrar um sinal, mesmo tênue, de
esperança de que as ações dos agentes de governo e as forças políticas passem a
priorizar o interesse público, deixando um pouco de lado as ações
exclusivamente dedicadas à eternização do poder, de seu grupo e
prepostos.
Sabendo também que é vítima de uma das
mais cruéis cargas tributárias do planeta, não vê contrapartida na qualidade
dos serviços públicos a que tem direito, tais como a saúde pública, moribunda,
a educação básica, há muito negligenciada a ponto do Brasil hoje exibir o
triste marca de ser, segundo a UNESCO, o oitavo país com mais adultos
analfabetos do mundo, a segurança, incapaz de ser garantida num nível mínimo,
tudo sem falar no lamentável estado dos transportes públicos nas grandes
cidades, área que só é contemplada com investimentos cosméticos e eleitoreiros,
sem continuidade, em vigor somente durante o mandato do momento, tudo
recomeçando com o novo eleito.
Coroando todo esse cenário carregado de
nonsense, o brasileiro, o da carga tributária escorchante, de repente, se vê
como um estranho financiador majoritário de um lucrativo evento esportivo
que prometia, à época do seu anúncio, ser a Copa da iniciativa privada, além de
constituir um agente de filantropia, através do seu BNDES, revitalizador de um
porto num país traumatizado pelo atraso de um governo que o domina há mais de
cinquenta anos, enquanto os terminais do nosso litoral e rios continuam
paquidérmicos e ineficientes.
É, cidadão, será que a sua única arma é
o voto?
Se é, diante de todo esse melancólico
quadro, parece ter o efeito de um dardo sem sedativo dirigido a um
dragão.
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de mar e
Guerra, reformado.
*Publicado no Alerta Total – www.alertatotal.net
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