terça-feira, 12 de agosto de 2014

PLANETACHO

EU, MEU PAI E O TIGRE

Meu pai era um sujeito simples e até meio bronco. Nas vezes em que fui ao zoológico com ele, jamais corri em volta de alguma jaula. Sabia que se fizesse isso, tomaríamos uma tunda, eu e o tigre. Era um outro tempo. As pessoas levavam máquinas fotográficas para documentar os momentos felizes com a família. Os filmes eram de 12, 24 ou 36 poses, que não podiam ser desperdiçadas com a vida dos outros. Se falava bem assim no período pré-selfie: poses.
Se porventura um guri chegasse perto de uma jaula duma fera, levaria uma tremenda bronca de qualquer adulto que estivesse por ali. Certamente, essa pessoa largaria a câmera fotográfica na mão de alguém da família e iria até lá afastar o piá do perigo.
Fiquei espantado com o número de pessoas* que, antevendo a tragédia, começaram a registrar friamente com o seu celular o que estava para acontecer, ao invés de tomar uma atitude.
O desfecho todos sabem.
O tigre não foi sacrificado. Afinal, não é racional como de resto quase todos éramos, naquele tempo.
*Amigos da onça?

DESJEJUM EM BABEL
Abre as persianas e pega na geladeira um resto de pizza portuguesa que está ao lado de uma solitária batata inglesa. Prepara torrada americana com pão francês, junto com chá da Índia.

AS NEIRAS

Queria fazer um curso à distância, mas a grana estava curta

Não gostava de pronomes, mas não era nada pessoal

O semi-aberto é condomínio fechado no mundo do crime


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