PLANETACHO
EU, MEU PAI E
O TIGRE
Meu pai era um sujeito simples
e até meio bronco. Nas vezes em que fui ao zoológico com ele, jamais corri em
volta de alguma jaula. Sabia que se fizesse isso, tomaríamos uma tunda, eu e o
tigre. Era um outro tempo. As pessoas levavam máquinas fotográficas para
documentar os momentos felizes com a família. Os filmes eram de 12, 24 ou 36
poses, que não podiam ser desperdiçadas com a vida dos outros. Se falava bem
assim no período pré-selfie: poses.
Se porventura um guri chegasse
perto de uma jaula duma fera, levaria uma tremenda bronca de qualquer adulto
que estivesse por ali. Certamente, essa pessoa largaria a câmera fotográfica na
mão de alguém da família e iria até lá afastar o piá do perigo.
Fiquei espantado com o número
de pessoas* que, antevendo a tragédia, começaram a registrar friamente com o
seu celular o que estava para acontecer, ao invés de tomar uma atitude.
O desfecho todos sabem.
O tigre não foi sacrificado.
Afinal, não é racional como de resto quase todos éramos, naquele tempo.
*Amigos da onça?
DESJEJUM EM BABEL
Abre as persianas e pega na
geladeira um resto de pizza portuguesa que está ao lado de uma solitária batata
inglesa. Prepara torrada americana com pão francês, junto com chá da Índia.
AS NEIRAS
Queria fazer
um curso à distância, mas a grana estava curta
Não gostava
de pronomes, mas não era nada pessoal
O semi-aberto
é condomínio fechado no mundo do crime
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