PROPAGANDA SEM PRODUTO
João Eichbaum
Há
os que pensam pela cabeça dos outros. Há os que, aporrinhados pela chata
obrigação de votar, não pensam. Há os fanáticos, os interesseiros e os
conscientes. Assim são os eleitores brasileiros.
Desses todos, só os
conscientes, é claro, enxergam na propaganda eleitoral uma inutilidade, um
desperdício de tempo e dinheiro. Eles retiram os ouvidos do rádio e o bumbum da
poltrona da frente da TV no horário político, passam indiferentes pelas “bandeiradas”,
ignoram os cabos eleitorais.
A pessoa consciente,
dotada de uma cultura que lhe enriquece a capacidade de discernimento, não
troca seu tempo de lazer ou de enriquecimento pessoal por ignorância,
estupidez, má intenção, falsidade e falta de caráter. A pessoa consciente não
fica na frente da TV, contemplando as estrelas guias da felicidade a prometerem
o céu na terra para o povo, fazendo-o acreditar que só a cegonha da política
traz no bico o bem estar da nação e as coisas mais excelentes.
Quem é consciente sabe
que a ganância de poder é o único móbil que sustenta candidaturas a cargos
políticos. E que com essa ganância não se harmoniza o bom caráter, a
personalidade, a honra pessoal.
Às pessoas cultas e
honradas não escapa sem repulsa essa suruba de ideias políticas a que se
entregam todos os partidos e candidatos que almejam o poder. O poder, que
amealha fortunas, transformando pobres em ricos do dia para a noite, envenena a
honradez. Por conta dele se abdica da palavra dada, dos compromissos com a moral.
É claro que nenhuma
pessoa consciente perderá seu tempo, ouvindo mensagens oriundas de liames
espúrios, de conchavos bastardos, de concubinatos políticos que acabarão
debitados na conta do contribuinte.
Sendo desnecessária,
incômoda, irritante e burra, a propaganda eleitoral não é dirigida às pessoas
conscientes. Seu público alvo se compõe dos que pensam pela cabeça dos outros,
dos interesseiros (cabos eleitorais, futuros ocupantes de “cargos em comissão”)
e dos energúmenos, que transformam em ato de fé sua cega admiração pela sem-vergonhice.
A propaganda eleitoral
distorce o conceito axiológico de democracia, principalmente quando colocada a
serviço da “reeleição”, eufemismo que disfarça a continuidade no poder.
Se democracia significa
“governo do povo”, só mesmo esse será o legítimo juiz do governo. Se o governo
foi bom, se atendeu às necessidades e aspirações do povo, não é necessário que
o governador do Estado e a presidente da República encham a boca de
adjetivos e advérbios para dizer que transformaram o Rio Grande e o Brasil num
mundo livre de todo mal, ficando o povo maravilhado, saciado de bem estar,
felicidade, e com dentes novos na boca.
Se o povo é soberano,
que os atuais governantes se entreguem ao cumprimento da missão que lhes foi
delegada e aguardem o veredito popular: foram eleitos para governar e não para
pedir votos.
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