sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

ONDE FOI QUE ESSE SENHOR MAMOU?

João Eichbaum

Aventurando palpites furados sobre a “guarda compartilhada”, o senhor Gley P. Costa, que se diz médico psiquiatra e psicanalista, apareceu no jornal ZH com falsos alardes de saber, tachando de falácia a ideia de que “as mulheres são mais capazes do que os homens de cuidar de uma criança”. E, abusando da cátedra, acrescentou: “a biologia não é suficiente para estabelecer um vínculo de amor entre a mãe e seu filho”.

Gostaria de saber em que Faculdade de Medicina esse senhor se formou. Não quero passar perto. Tenho medo de emburrecer, de uma hora para outra.

Não é preciso ser antropólogo. Basta observar a vida de qualquer animal. Ao primeiro respiro fora da casca ou do útero, o animalzinho sente a presença da mãe. O instinto do animal, mais forte do que a inteligência do senhor Gley P. Costa, lhe garante que a mãe é o invólucro da sua proteção.

O único ser que, por instinto, o recém-nascido conhece é a mãe: é ela, e não o pai, que lhe dá alimento, é ela que o socorre ao primeiro berro provocado pela fome. O pai, o macho, é uma figura desconhecida, um ser remoto e estranho, sem significado algum na área de alcance do instinto animal.

O filhote se apega à mãe e dela se torna dependente. Sua sobrevivência, enquanto só dominado pelo instinto, depende exclusivamente da mãe e, nesse campo, não há espaço para o pai.

Diz ainda o aludido médico psiquiatra que “o amor materno, assim como o paterno é conquistado no convívio com a criança”.  Ora, amor é uma palavra inventada pelos poetas, que assim denominam até o opróbrio sexual, de que nascem crianças sem pai. Para os cientistas o que existe é o instinto. E esse é o laço que vincula o filho à mãe. A afeição pelo pai, essa sim, é pura decorrência do convívio, do hábito, do dia a dia – e não da biologia.

Sábio, mesmo, é o adágio popular: “mãe é uma só”. Os palpites do senhor Gley não revogarão as leis da natureza. A menos que ele tenha sido amamentado pelo pai. No peito, certamente, porque nada pior há de passar pela cabeça de quem quer que seja.



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