segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

OS “IMORTAIS”
João Eichbaum

Só não se pode dizer que o Mário Sérgio Conti, em seu artigo intitulado “Conformismo e Coonestação”, publicado no caderno “Ilustrada” da Folha de São Paulo, na última sexta-feira, tirou dos cachorros para botar nos fardados da Academia Brasileira de Letras: os cachorros têm muito mais valias e virtudes.

 O cão protege seu dono, é seu amigo mais fiel, guia cegos, guarda rebanhos, faz companhia para idosos e deficientes, diverte e protege  as crianças e encanta adultos em desempenhos artísticos, ajuda a polícia nas investigações e bombeiros nas catástrofes, se presta até para auxiliar em diagnósticos médicos.

Já os “membros do clube”, como aos “imortais” se refere o Conti, só cuidam deles mesmos, de sua vaidade, de seu ego endeusado por imbecis, tirando proveito de jetons, “do escritório a que têm direito no centro do Rio e do mausoléu que os aguarda em Botafogo”, quando baterem as botas. Sem falar no jogo mútuo de confetes e nas abobrinhas no seu chá da tarde.

Mencionando particularmente algumas figurinhas, Mário Sérgio Conti mostra a pobreza intelectual da chamada Academia Brasileira de Letras.
De Getúlio Vargas, diz que o ditador “nem o bilhete suicida” conseguiu escrever. Ao mencionar o culto à “mediocridade literária”, lembra os nomes de Nélida Piñon e Murilo Melo Filho (você já leu algum livro deles?). Não deixa de falar em bajulação quando menciona Fernando Henrique Cardoso e Marco Maciel. E provoca estupefação nos menos avisados, quando lembra que o Ivo Pitanguy, que veste o fardão certamente porque escreveu receitas, é um dos “serelepes” do clube.

O artigo desemboca na revelação de que Ferreira Gullar, tempos atrás, jurara de pés juntos que “jamais entraria para a Academia”, mas  depois de “se submeter ao vexame de cabalar votos”, finalmente envergará o “fardão-ostentação”.

Por favor, jamais tirem dos “imortais” para botar nos cachorros. Os pobres animaizinhos não saberiam o que fazer com tanta desvalia. O contrário, sim, pode ser feito. Mas nenhum dos “imortais” saberia o que fazer se alguém lhes transferisse as virtudes e as valias dos cachorros. Enroscados que sempre estão no próprio ego, ficariam perdidos – aí sim - que nem guaipecas em procissão.


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