OS “IMORTAIS”
João Eichbaum
Só não se pode dizer que o Mário Sérgio Conti, em seu
artigo intitulado “Conformismo e Coonestação”, publicado no caderno “Ilustrada”
da Folha de São Paulo, na última sexta-feira, tirou dos cachorros para botar
nos fardados da Academia Brasileira de Letras: os cachorros têm muito mais
valias e virtudes.
O cão protege
seu dono, é seu amigo mais fiel, guia cegos, guarda rebanhos, faz companhia
para idosos e deficientes, diverte e protege
as crianças e encanta adultos em desempenhos artísticos, ajuda a polícia
nas investigações e bombeiros nas catástrofes, se presta até para auxiliar em
diagnósticos médicos.
Já os “membros do clube”, como aos “imortais” se
refere o Conti, só cuidam deles mesmos, de sua vaidade, de seu ego endeusado
por imbecis, tirando proveito de jetons, “do escritório a que têm direito no
centro do Rio e do mausoléu que os aguarda em Botafogo”, quando baterem as
botas. Sem falar no jogo mútuo de confetes e nas abobrinhas no seu chá da
tarde.
Mencionando particularmente algumas figurinhas, Mário
Sérgio Conti mostra a pobreza intelectual da chamada Academia Brasileira de
Letras.
De Getúlio Vargas, diz que o ditador “nem o bilhete
suicida” conseguiu escrever. Ao mencionar o culto à “mediocridade literária”,
lembra os nomes de Nélida Piñon e Murilo Melo Filho (você já leu algum livro
deles?). Não deixa de falar em bajulação quando menciona Fernando Henrique
Cardoso e Marco Maciel. E provoca estupefação nos menos avisados, quando lembra
que o Ivo Pitanguy, que veste o fardão certamente porque escreveu receitas, é
um dos “serelepes” do clube.
O artigo desemboca na revelação de que Ferreira
Gullar, tempos atrás, jurara de pés juntos que “jamais entraria para a
Academia”, mas depois de “se submeter ao
vexame de cabalar votos”, finalmente envergará o “fardão-ostentação”.
Por favor, jamais tirem dos “imortais” para botar nos
cachorros. Os pobres animaizinhos não saberiam o que fazer com tanta desvalia. O
contrário, sim, pode ser feito. Mas nenhum dos “imortais” saberia o que fazer
se alguém lhes transferisse as virtudes e as valias dos cachorros. Enroscados
que sempre estão no próprio ego, ficariam perdidos – aí sim - que nem guaipecas
em procissão.
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