quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

PROMISCUIDADE
João Eichbaum

Dias atrás, as telas da televisão exibiram para o Estado e para o país inteiro a “fila da droga” num presídio de Porto Alegre. Enfileirados disciplinadamente, presos aguardavam sua vez de se servirem da cocaína que era distribuída por um deles. A cena foi filmada também por um presidiário. Quer dizer: droga e celular é o que não falta dentro dos presídios. Apesar disso, os bandidos são tratados como coitadinhos, pela Maria do Rosário.

Entrevistadas, as autoridades não sabiam o que dizer. Sim, isso mesmo, não atinavam com as coisas lógicas e bem explicadinhas sobre a própria incompetência. A começar pelo Secretário da Segurança de então, um certo Airton Michels. E um dos juízes das Varas de Execuções Penais acabou admitindo que o poder do crime é maior do que o poder do Estado. Não se deu conta de que estava confessando sua condição de figura decorativa, para quem pagamos gordurosos salários, além de “auxílio-moradia”.

No fim da semana passada, foi morto a tiros de fuzil, à beira da piscina de uma casa, que alugara para veranear, fazer churrascos e festas de arromba na praia de Tramandaí, o traficante Alexandre Goulart Madeira, vulgo Xandi. E vocês sabem quem estava na casa, na hora em que o traficante foi abatido? Ninguém menos do que um “homem de confiança” do Secretário de Segurança acima mencionado, seu “assessor especial”, o comissário Nilson Aneli. Tão especial que, na mudança de governo, já tinha assegurada sua cedência para o Ministério Público. Eu, hein!

Ora, ora, essa intimidade do “assessor especial” do Secretário de Segurança com um traficante não diz nada? Tudo vai ficar por isso mesmo? Nós, os contribuintes, os que pagamos para ter segurança, teremos que nos contentar com a alegação de que o comissário teria ido na casa para “socorrer um sobrinho”, que havia sido baleado?

É por isso que não temos segurança. Porque são os bandidos que mandam. Porque o Estado não passa de um ajuntamento de pessoas incompetentes, que buscam fama e poder, a qualquer preço, por qualquer meio, e são tratadas pela imprensa como pessoas importantes. Essa é a imagem vendida para o povo alienado, incapaz de grandes proezas cerebrais e, acima de tudo, pusilânime: chora tanto diante do torpe, como do sublime.

Por favor, esqueçam. Enquanto não dispusermos de condições para distinguir, na promiscuidade do torvelinho social, quem é quem, quem é bandido, policial, juiz ou político, será inútil qualquer aspiração por segurança.


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