A HUMANIDADE
João Eichbaum
A humanidade nada mais é do que um simples fenômeno da
natureza. O homem, espécie de que é gênero o animal, não passa do resultado de
um dos muitos processos físico-químicos que alimentam a dinâmica do universo.
Como todo o processo químico provoca reações, a natureza não poderia ser
estática.
Justamente por serem produtos de uma composição química,
os animais são diferentes uns dos outros, como são diferentes suas espécies.
Essa diversidade é a primeira prova de que eles não foram criados, como
pretendem os seguidores da mitologia judaico-cristã.
Se tivessem sido criados por algum ser superior,
poderoso, onipotente, segundo o modelo da mencionada mitologia, na base do sopro
e da costela, cada espécie teria configuração única, linear, padronizada.
Nenhuma unidade, dentro da respectiva espécie, escaparia ao modelo, exatamente
por ser fruto de uma inteligência superior, onipotente, imune de erros.
Justamente às reações químicas se deve a diversidade.
Há certas composições que se repelem ou não se ajustam, devido aos mais
variados fatores. Quem trabalha em laboratório sabe disso. Clima, temperatura,
dosagem, invólucro, podem ser responsáveis pela variação das reações químicas.
Assim, o homem é inteiramente dependente das reações
químicas que nele operam, desde a junção do óvulo com o espermatozóide até sua
decomposição total, que só deixa pó como rasto. Cor, tamanho, eficiência e funcionamento
de células e neurônios, grau de inteligência, prazo de validade, variam em cada
unidade. Da gentalha à aristocracia, do mendigo ao rei, do desclassificado ao
podre de rico, do amor ao desdém. É desse amálgama que se forma a humanidade.
Resumindo: um ser humano não é igual ao outro. E isso se
reflete no conjunto. A disparidade dos seres que compõem a humanidade é
responsável pela imperfeição dela e nos afunda na crua realidade do mundo. Para
alguns, a vida é mais feia que fiofó de burro; para outros, um paraíso. Não há
religião nem filosofia que resolva isso. E o motivo está nos dois ouvidos do
homem: o blábláblá entra por um e sai pelo outro.
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