terça-feira, 28 de julho de 2015

MÃE É UMA SÓ

João Eichbaum

A juventude sem alegria rouba a beleza das mulheres e envelhece o ser humano antes do tempo. O que gera a alegria é a felicidade e essa motiva a vida, traz mais vontade de viver, renova a juventude. Sem alegria, a vida sofre uma espécie de estagnação e fica sem estímulo para promover as mudanças, virtuais portadoras da felicidade.

 Aquela mulher provavelmente não tinha mais que vinte e cinco anos, mas o olhar triste, a testa franzida e o ar de desamparo a tornavam uns dez anos mais velha, embora não lhe escondessem os resquícios de uma beleza antiga. A chuva sem fim lhe invadira o barraco, carregando, sabe-se lá para onde, as poucas coisas que a ajudavam a ir levando a vida.

Ela não tinha sido a única vítima. Todas as casas a seu derredor haviam sofrido os estorvos da natureza, todas as famílias tiveram que abandonar seus barracos para viver um arremedo de vida num abrigo coletivo.

Quando baixaram as águas, seus companheiros de infortúnio puderam voltar para os tugúrios, recomeçando a vida, mas ela, não. Ela, a jovem envelhecida pelos percalços do destino, e seus cinco filhos, permaneceram no abrigo. O pouco que havia na casa tinha sido levado pela correnteza. Não adiantaria voltar para lá: não tinha comida para aos filhos.

Essa foi uma das muitas histórias de vida que serviram de matéria para os noticiários de televisão na semana passada. Uma jovem mulher, desalojada de casa pela água, estava com seus cinco filhos, num abrigo, à espera de uma decisão que só o destino podia tomar por ela: onde e como recomeçar a vida, se não tinha nem como alimentar os filhos.

De pai, ninguém indagou, nem ela cogitou. Se eram filhos do mesmo pai, ou se cada um tivera o seu reprodutor ao sabor das circunstâncias, foi uma pergunta que ficou no ar. A miséria está sempre acima da moral, qualquer que seja a escala de valores.

 Nessa farsa que é a vida, o que importa, para muita gente, é o prazer descomprometido: ela, a vida, não passa de um espetáculo que dispensa a honra e a responsabilidade. As conseqüências ficam por conta do Estado e da misericórdia alheia.



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