MÃE É UMA SÓ
João Eichbaum
A juventude sem alegria rouba
a beleza das mulheres e envelhece o ser humano antes do tempo. O que gera a
alegria é a felicidade e essa motiva a vida, traz mais vontade de viver, renova
a juventude. Sem alegria, a vida sofre uma espécie de estagnação e fica sem
estímulo para promover as mudanças, virtuais portadoras da felicidade.
Aquela mulher provavelmente não tinha mais que
vinte e cinco anos, mas o olhar triste, a testa franzida e o ar de desamparo a
tornavam uns dez anos mais velha, embora não lhe escondessem os resquícios de
uma beleza antiga. A chuva sem fim lhe invadira o barraco, carregando, sabe-se
lá para onde, as poucas coisas que a ajudavam a ir levando a vida.
Ela não tinha sido a única
vítima. Todas as casas a seu derredor haviam sofrido os estorvos da natureza,
todas as famílias tiveram que abandonar seus barracos para viver um arremedo de
vida num abrigo coletivo.
Quando baixaram as águas,
seus companheiros de infortúnio puderam voltar para os tugúrios, recomeçando a
vida, mas ela, não. Ela, a jovem envelhecida pelos percalços do destino, e seus
cinco filhos, permaneceram no abrigo. O pouco que havia na casa tinha sido
levado pela correnteza. Não adiantaria voltar para lá: não tinha comida para aos
filhos.
Essa foi uma das muitas
histórias de vida que serviram de matéria para os noticiários de televisão na
semana passada. Uma jovem mulher, desalojada de casa pela água, estava com seus
cinco filhos, num abrigo, à espera de uma decisão que só o destino podia tomar
por ela: onde e como recomeçar a vida, se não tinha nem como alimentar os
filhos.
De pai, ninguém indagou, nem
ela cogitou. Se eram filhos do mesmo pai, ou se cada um tivera o seu reprodutor
ao sabor das circunstâncias, foi uma pergunta que ficou no ar. A miséria está
sempre acima da moral, qualquer que seja a escala de valores.
Nessa farsa que é a vida, o que importa, para
muita gente, é o prazer descomprometido: ela, a vida, não passa de um
espetáculo que dispensa a honra e a responsabilidade. As conseqüências ficam
por conta do Estado e da misericórdia alheia.
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