PLANETACHO
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O dono da bola
Nos meados dos anos 70 a rapaziada das imediações da praça 20 de
Setembro, em São Leopoldo, quando queria jogar uma pelada só tinha uma saída.
Batia na porta da casa do nosso amigo ao lado da padaria de seu pai. Ele era o
único que possuía uma redonda nas imediações. Infelizmente, também o típico
dono da bola. Quando estava de mau humor, era quase irredutível. Convencê-lo
era uma tarefa árdua. Era preciso muita negociação e um jeitinho que só
descobrimos depois de muito implorar. Passamos a tratá-lo como se fosse o
próprio Figueroa. Elogiávamos seu futebol. Sua liderança. Elogiávamos Marcela
(a linda esposa do Figueroa) dizendo compreender que ela era um bom motivo para
não passar a tarde correndo no areão da praça com todo aquele solaço. Mas...
quem sabe usted nos empresta la pelota?
Ficava ansioso e de nariz colado na TV da sala e com uma cara de poucos
amigos até que resmungava algo em portunhol e entrava para o seu quarto.
Voltava minutos depois fardado da cabeça aos pés como se tivesse incorporado o
lendário zagueiro chileno. O que preocupava um pouco eram os pés, já que ele
calçava chuteiras enquanto a gurizada jogava descalça no areão da praça.
Mas isto pouco importava, já que
ele vinha com uma bola oficial novinha, com gomos em preto e branco, cheirando
a nova embaixo do braço. Nós saudávamos nosso amigo com cânticos de torcida...O
próprio. Dom Elias Ricardo Figueroa Brander.
Mal chegávamos à quadra improvisada e já providenciávamos as goleiras
com pedras, chinelos e a divisão dos times na base do par ou ímpar ou “discordar”.
As partidas eram quase intermináveis. Ou melhor, só terminavam quando, já
exaustos no fim da tarde, deixássemos que o time do dono da bola saísse
vitorioso.
Muito tempo já se passou. Lembrei do meu velho amigo quando o deputado
Eduardo Cunha, o presidente da Câmara e também o dono da bola, agiu de maneira
semelhante durante a votação da maioridade penal no meio da semana passada em
Brasília.
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