quinta-feira, 23 de julho de 2015

O NÉRIO SABE DAS COISAS

 Vim de Antônio Prado, o antigo  " El Paese Novo") dos inicios da colonização italiana, 1885 do lado de lá  do Rio das Antas, com a balsa precária - um atraso total, no Passo do Zeferino - entre - Antônio Prado e Flores de Cunha , que se chamava Nova Trento. Isto é, na margem direita do rio das Antas, lá em cima do morro, no meio do mato viçoso, onde ainda residiam várias famílias de indios, que o italiano chamou de !" bugre".

Na estrada, hoje RS-122, entre Antônio Prado, Ipê e Vacaria, Rodovia Sinval Guazzelli,  tem uma localidade chamada de "! Capão do Bugre", na entrada para a localidade de São Paulino, perdida no meio do campo, onde terminam as colônias destinadas aos imigrantes (de 25 hectares) e começam as grandes fazendas e estâncias do planalto vacariano, dos grandes, abastados e atrasados fazendeiros. Uns progrediram com o campo, como o nosso Ruy Gessinger na sua amada Unistalda, a famosa estação férrea da Estrada Ferroviária, da VFRGS para São Borja - mas a maioria entrou pelo cano e venderam o campo, uns venderam até antes dos pais falecerem e a maioria vendeu no inventário dos velhos. Se mandaram para a cidade, onde a maioria se favelou. Uma tristeza.  Quem conta este fenômeno é o escritor e médico Dr. Cyro Martins, principalmente, na clássica trilogia do " gaúcho a pé".

Neste Capão do Bugre, tinha uma raia de carreiras de cancha reta, com dois trilhos, que marcou época, os trilhos ficavam do lado esquerdo, quem vai de Antonio Prado para Vacaria, junto ao famoso " Capão do Bugre", e na margem da estrada, asfaltada faz  pouco tempo e tomou o nome de RS-122, eis que fazia parte da famosa Estrada Júlio de Castilhos, que iniciava em São Sebastião do Caí, e terminava no Passo do Socorro, no rio Pelotas, na divisa de Santa Catarina, entre os municípios de Lages e Vacaria, primeira ligação de São Paulo com Porto Alegre. Tudo passava por Antonio Prado. A raia de carreiras tinha 4 quadras, pois, uma quadra tem 132 metros. E só no partidor, tinha uma espécie de "partidor" de madeira, onde ficavam os dois "parelheiros" e ao grito de "já" do juiz de partida, se mandavam na doida corrida até o " chegador" onde tinha o especialista e respeitado, " juiz de chegada" com uma taquara fincada no meio dos dois trilhos e ele ficava em posição com a mão levantada para julgar e indicar o cavalo que tinha ganho a corrida. Juntava muito povo, nos domingos. Todos os domingos tinha carreiradas. Umas cinco ou seis carreiras, as primeiras, eram com cavalos famosos, nomes conhecidos no vizindário e de grande carreiristas. Todos apostavam. E havia um grande churrasco ao meio-dia. Depois, á tarde, numa fraterna confraria entre os colonos italianos que adoravam o campo, o cavalo e as carreias com a peonada que vinha das fazendas da Vacaria e adjacências, então, "atavam" carreiras, na hora, entre seus cavalos de montaria. Tiravam os arreios, ficava só um pelego e  uma sobre-cincha para segurar o pelego, para aliviar o lombo do cavalo, e se realizavam corridas comuns, durante toda a tarde e a turma apostando, dinheiro vivo, que era " casado" e depositado na mão do homem de confiança, terminada a carreira o ganhador recebia o dinheiro, na hora. Este fato era sagrado. Jamais um apostador vencedor deixou de receber. Assim como no "jogo do bicho". Proibido, mas todos jogam e o ganhador sempre recebe. Era o tempo em que fio de bigode valia mais que documento.


Nério “dei Mondadori” Letti

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