O NÉRIO SABE DAS COISAS
Vim de Antônio Prado, o antigo " El
Paese Novo") dos inicios da colonização italiana, 1885 do lado de lá
do Rio das Antas, com a balsa precária - um atraso total, no Passo do
Zeferino - entre - Antônio Prado e Flores de Cunha , que se chamava Nova
Trento. Isto é, na margem direita do rio das Antas, lá em cima do morro, no
meio do mato viçoso, onde ainda residiam várias famílias de indios, que o
italiano chamou de !" bugre".
Na estrada, hoje RS-122, entre Antônio Prado, Ipê e
Vacaria, Rodovia Sinval Guazzelli, tem uma localidade chamada de "!
Capão do Bugre", na entrada para a localidade de São Paulino, perdida no
meio do campo, onde terminam as colônias destinadas aos imigrantes (de 25
hectares) e começam as grandes fazendas e estâncias do planalto vacariano, dos
grandes, abastados e atrasados fazendeiros. Uns progrediram com o campo, como o
nosso Ruy Gessinger na sua amada Unistalda, a famosa estação férrea da Estrada
Ferroviária, da VFRGS para São Borja - mas a maioria entrou pelo cano e
venderam o campo, uns venderam até antes dos pais falecerem e a maioria vendeu
no inventário dos velhos. Se mandaram para a cidade, onde a maioria se favelou.
Uma tristeza. Quem conta este fenômeno é o escritor e médico Dr. Cyro
Martins, principalmente, na clássica trilogia do " gaúcho a pé".
Neste Capão do Bugre, tinha uma raia de carreiras de
cancha reta, com dois trilhos, que marcou época, os trilhos ficavam do lado
esquerdo, quem vai de Antonio Prado para Vacaria, junto ao famoso " Capão
do Bugre", e na margem da estrada, asfaltada faz pouco tempo e tomou
o nome de RS-122, eis que fazia parte da famosa Estrada Júlio de Castilhos, que
iniciava em São Sebastião do Caí, e terminava no Passo do Socorro, no rio
Pelotas, na divisa de Santa Catarina, entre os municípios de Lages e Vacaria, primeira
ligação de São Paulo com Porto Alegre. Tudo passava por Antonio Prado. A raia
de carreiras tinha 4 quadras, pois, uma quadra tem 132 metros. E só no
partidor, tinha uma espécie de "partidor" de madeira, onde ficavam os
dois "parelheiros" e ao grito de "já" do juiz de partida,
se mandavam na doida corrida até o " chegador" onde tinha o
especialista e respeitado, " juiz de chegada" com uma taquara fincada
no meio dos dois trilhos e ele ficava em posição com a mão levantada para
julgar e indicar o cavalo que tinha ganho a corrida. Juntava muito povo, nos
domingos. Todos os domingos tinha carreiradas. Umas cinco ou seis carreiras, as
primeiras, eram com cavalos famosos, nomes conhecidos no vizindário e de grande
carreiristas. Todos apostavam. E havia um grande churrasco ao meio-dia. Depois,
á tarde, numa fraterna confraria entre os colonos italianos que adoravam o
campo, o cavalo e as carreias com a peonada que vinha das fazendas da Vacaria e
adjacências, então, "atavam" carreiras, na hora, entre seus cavalos
de montaria. Tiravam os arreios, ficava só um pelego e uma sobre-cincha
para segurar o pelego, para aliviar o lombo do cavalo, e se realizavam corridas
comuns, durante toda a tarde e a turma apostando, dinheiro vivo, que era "
casado" e depositado na mão do homem de confiança, terminada a carreira o
ganhador recebia o dinheiro, na hora. Este fato era sagrado. Jamais um
apostador vencedor deixou de receber. Assim como no "jogo do bicho".
Proibido, mas todos jogam e o ganhador sempre recebe. Era o tempo em que fio de
bigode valia mais que documento.
Nério “dei Mondadori” Letti
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